
Review: Octopath Traveler 0 é conservador como RPG (e isso é ótimo)
Com sistemas de construção e personagens memoráveis, Octopath Traveler 0 mostra que a franquia da Square segue invicta nos acertos
Imagem: Square Enix
uma realidade em que os jogos estão sendo facilitados e recebendo cada vez mais recursos de acessibilidade para angariar novos públicos, tendo em vista que a concorrência pela atenção do jogador anda acirradíssima, é de tirar o chapéu quando uma desenvolvedora não se deixa levar por tendências e permanece resoluta em sua visão, e Octopath Traveler 0 vota com o relator.
Mesmo para quem gosta de RPG japonês, os dois primeiros títulos da franquia Octopath, sobretudo o primeiro, não são exatamente games tão fáceis de digerir. O combate por turnos é deliberadamente metódico, a dificuldade herda o masoquismo dos RPGs dos anos 1990 e não há um senso de direção tão claro: o jogo quer que você descubra o caminho por conta própria.
Octopath Traveler 0, ainda que não seja um RPG de digestão leve, é a porta de entrada ideal para quem nunca teve contato com a franquia da Square Enix. Isso porque ele reinterpreta os acontecimentos de Octopath Traveler: Champions of the Continent, exclusivo de mobile, que serviu como prequel para contextualizar a história da primeira obra.
Octopath Traveler 0: síndrome de protagonista
Em Octopath Traveler 0, tal qual nos lançamentos anteriores, a narrativa se satisfaz com o papel de coadjuvante, enquanto delega o protagonismo aos personagens com os quais formamos alianças. Aqui, contudo, somos convidados a criar um herói do zero, sem um background tão convincente, algo proposital para que seus parceiros de aventura exerçam os papéis de destaque.
Tudo se desenrola após a destruição total de Wishvale, a cidade natal do protagonista, situada no continente de Osterra. Nosso herói, desamparado depois de perder família e amigos, embarca em uma jornada segmentada em atos, mais linear e direta, abdicando da estrutura cheia de bifurcações dos demais títulos.
Em Octopath Traveler 0, você vai dividir seu tempo entre missões conduzidas por batalhas e exploração, cujo objetivo é impedir um grupo de antagonistas de encontrar os anéis mágicos que concedem poderes aos portadores, e trechos nos quais é preciso reerguer a cidade. A trama, portanto, equilibra com excelência momentos de vingança e restauração, mas cabe ao jogador decidir o que quer priorizar. Acima de tudo, o prequel é sobre recomeços.
Acima de tudo, o prequel é sobre recomeços

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
O que mais me atrai em Octopath Traveler é a forma como interagimos com NPCs e, principalmente, a liberdade que existe ao recrutá-los pelo mundo, no melhor estilo Suikoden. Como quase não há encontros scriptados no trajeto da história, expandir os membros da party fica totalmente a seu critério.
Minha dica de ouro é: seja curioso, pois sua curiosidade será sempre recompensada com personagens memoráveis. Nota-se um cuidado especial na construção dos mais de 30 companheiros recrutáveis, cada qual com sua motivação e personalidade, apesar de nem todos terem o mesmo espaço de protagonismo na trama.
Tenha em mente que Octopath Traveler 0 não é nada “light”, no sentido de que não se joga apenas meia horinha para desopilar e se dar por satisfeito. Longe disso: o game tem potencial de se estender por mais de 100 horas, a depender das escolhas feitas pelo jogador, e o seu início é arrastado à beça, mesmo para um RPG que se propõe a ser old-school.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Desafio à moda antiga
Inofensivo à primeira vista, o sistema de batalha por turnos é desafiador e tenta sair do convencional com as mecânicas de Break e Boost. De forma resumida, é possível executar múltiplas ações no mesmo turno, dando um toque autoral a um tipo de combate já bastante explorado. Se o inimigo for vulnerável ao seu tipo de equipamento, sua defesa é quebrada depois de alguns golpes, o que o torna mais suscetível ao dano.
Os mecanismos que citei podem até soar como novidade, mas, se você já jogou Octopath Traveler na vida, vai estar em casa. Não há nada de mirabolante que seja preciso aprender do zero, com exceção de que agora são oito heróis na party, e a graça ainda reside no fato de que podemos manipular ações com BPs, tanto ofensivas quanto defensivas. Na prática, isso significa que é permitido atacar e defender na mesma rodada (ou desferir dois ataques), o que sempre gera um momento de tensão – e indecisão – quando avaliamos a tática a ser usada.
Por emular os RPGs japoneses das antigas, é natural que a dificuldade de Octopath Traveler 0 esteja calibrada no máximo, exigindo não só estratégia na hora do vamos ver, mas também dedicação total ao grind. Se fôssemos mapear a jogabilidade como um fluxograma, farmar XP seria um elemento imprescindível do início do processo para quem não quer uma experiência frustrante.
É possível executar múltiplas ações no mesmo turno, dando um toque autoral a um tipo de combate já bastante explorado

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
O nível de desafio ainda é potencializado pela presença de poucos checkpoints entre uma área e outra, já que o progresso deve ser guardado manualmente. Além disso, não há muitas opções para reabastecer os pontos de vida dos personagens, salvo alguns itens, poderes e lugares específicos nos quais podemos descansar com o grupo.
Um respiro do RPG
Octopath Traveler 0 se beneficia de um sistema de construção de cidades, algo inédito para a série, para criar um loop de gameplay mais diversificado. Reconstruir Wishvale é parte fundamental da jogatina e, em muitos momentos, é o que faz a história andar. Goste ou não de construir, é algo que você vai acabar fazendo, mais cedo ou mais tarde.
Os sistemas de construção, entretanto, são simples e não pedem nenhum conhecimento prévio em games do gênero, mas você vai precisar deles para recrutar aliados e até expandir a lore, uma vez que certos diálogos são desbloqueados à medida que restauramos a vila. Se for ver, é uma saída interessante para renovar a fórmula consolidada de Octopath Traveler.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Veredito
Conservador como RPG, Octopath Traveler 0 assume o compromisso de preservar as tradições do gênero, da dificuldade alta à exploração, ainda que traga um combate por turnos com mecânicas próprias e um sistema de construção simples, porém eficiente. Um exemplo disso é que ele nem se preocupa em incorporar as melhorias de qualidade de vida dos RPGs modernos, algo que não é necessariamente ruim para quem é da velha guarda, mas que o coloca em um nicho mais restrito para o jogador comum.
Analisado no PS5 Pro.
Uma cópia de Octopath Traveler 0 foi gentilmente cedida pela Square Enix para o propósito de análise
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Octopath Traveler 0
Publisher: Square Enix
Desenvolvedora: Square Enix
Plataformas: PS4, PS5, Xbox Series S|X, Nintendo Switch, Switch 2 e PC
Lançamento: 04/12/2025
Tempo de review: 70 horas
Conservador como RPG, Octopath Traveler 0 se compromete a preservar as tradições do gênero
Prós
- Sistema de recrutamento robusto, à la Suikoden
- Combate por turnos com mecânicas próprias
- Exploração recompensadora
- Reconstruir a cidade renova os ares de RPG
- Personagens memoráveis que dividem o protagonismo
Contras
- Sem textos em português (e eles são ótimos em inglês)
- Ritmo moroso nas primeiras horas











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