Um papo com Gilão, a Enciclopédia Retrogamer da Mr. Games
Gilão, o grande ícone do retrogaming responsável pela loja Mr. Games e feira Retrocon, compartilha as suas histórias com a gente
ideogames retrô são um tema verdadeiramente apaixonante, e um bom entusiasta da área sabe rápido como detectar as pessoas que compartilham da sua paixão. Por isso é muito difícil gostar de videogames e não gostar do Giovani Gandelim, mais conhecido como Gilão, o dono do canal GQP, e um dos fundadores da feira Retrocon.
A cerca de 160km da Grande São Paulo, na Avenida Independência 216, em Piracicaba, você pode encontrar facilmente essa lenda dos videogames em sua loja, a chamativa Mr. Games, um dos pontos mais legais de Piracicaba, e uma parada essencial para colecionadores.
Entre uma partida e outra de pinball, o Gilão gentilmente tirou um tempo para conversar com o Flow Games sobre a importância da preservação histórica dos jogos, o valor de transmitir a paixão para as próximas gerações e os objetivos da feira Retrocon. Confira a nossa entrevista completa a seguir!
As origens da paixão por videogames
Videogames foram parte da vida do Gilão praticamente desde que ele se entende por gente. “Eu sempre gostei, desde moleque, né?”, revelou. “O meu tio tinha um Atari e eu jogava com ele. Quando eu trabalhava de office boy, o ponto de encontro da gente era no fliperama.”
“Então eu sempre estive ligado, desde moleque o meu sonho era trabalhar com isso. Comecei como Office Boy aos 14 anos, fui guardando o dinheiro e comprei meu CCE. Quando eu abri a locadora, já estava lançando o Megadrive.”
Flow Games: Putz, locadoras eram praticamente uma segunda casa pra mim, minha família também montou uma na época e era cada coisa que a gente via, né?
Gilão: “Era muito complicado, às vezes os caras pegavam uma fita boa e cara, e na hora de devolver vinha Tiger Heli dentro do cartucho. É um bom jogo, eu gosto muito do Tiger Heli, mas era sempre por ele que trocavam a placa, pô! (risos)
E quando eu ia para o Paraguai nos anos 1990 para pegar mais produtos, os concorrentes tivaram sarro da gente. Aí dava 2 meses e depois estavam fazendo igual…”
Flow Games: Eram muitos desafios, e isso só piorou depois que a pirataria explodiu de vez. Ao menos para esse modelo de negócios, foi um baque, certo?
Gilão: “A pirataria quebrou o formato de locadora, mas como a essa altura eu já era técnico, a história é que eu fali com a pirataria e me ergui com ela, não dá para nadar contra a corrente. Fiquei de 1990 a 1998 com a locadora, que era a Games House.
Depois do fim desse formato a gente fazia muito reparo e desbloqueio de console. Era loja e reparo, o que servia para autenticar mais a loja na época. Já a Mr. Games jé é no formato que eu fui montando na minha cabeça. Hoje a loja tem mais de 6.000 jogos e 250 consoles.”
Flow Games: E acho muito legal que, vendo nas lives ou indo na loja, fica bem claro que você toca um negócio bem família e acolhedor.
Gilão: “A gente mudou pro endereço atual há 8 anos. Primeiro coloquei lá a minha filha mais velha, mas ela não trabalha mais hoje. Depois o meu filho, que está lá desde que tinha 15. E tem a minha filha do meio, que é gerente da loja, e a minha esposa que auxilia na parte do online. Hoje a minha equipe tem 6 pessoas, ou 7 contando comigo”.
Flow Games: Isso é especialmente legal porque o Brasil nunca foi um país particularmente bom para empreender, né? Mesmo sem entrar nos pormenores de política, só quem toca um negócio aqui sabe quantos desafios há nos bastidores.
Gilão: “A gente está na contramão e acelerando, né? Isso já é difícil ao natural, mas no mercado retrô é mais ainda, porque é um publico de nicho. Eu acho que a gente ter uma loja física hoje tem um diferencial, traz uma segurança a mais para a pessoa, sem falar que o cara pode ir lá e bater um papo.”
Flow Games: E ter loja hoje acaba pressupondo também a necessidade de uma certa presença online. Imagino que a live de vendas que você faz toda quinta-feira à noite seja essencial na estratégia atual.
Gilão: “A live hoje é uns 60, 65% do faturamento da loja. Mudou muito o formato de live ao longo dos anos, hoje é uma coisa muito dinâmica. Eu mostro uma live legal nessa semana, mas na seguinte eu já tenho que mostrar outra coisa, outros itens, senão ela não fica atrativa.
Tanto na live como no meu canal também tento atrair mostrando coisas que poucos conhecem, consoles mais obscuros…”
A importância do colecionismo de Videogames
Além de ser um empreendedor por natureza, Gilão também é referência quando o assunto é coleção de videogames. “Hoje eu tenho mais de 3.000 jogos, sou um dos 5 maiores colecionadores do Brasil, mas eu não ligo para números”, ponderou.
“A coleção só precisa fazer sentido para a pessoa. Se eu parasse de trabalhar hoje, ainda assim eu não teria tempo para jogar tudo no resto da vida. Então eu fiz o canal para redescobrir e valorizar essas coisas também.”
Flow Games: Quando conversei com o Tiozão, um dos assuntos que levantamos foi justamente esse lance de se divertir e focar a sua coleção nas coisas que você realmente gosta.
Gilão: “A linha entre acumular e colecionar é tênue. Tem um cara do Sul, ele já comprou muito comigo, mas tem uma história engraçada. Ele comprou um PS3 do Resident Evil lindão, mas pouco depois ele voltou perguntando ‘eu posso devolver, Gilão?’
E eu pensando que podia ter dado algum defeito, mas ele seguiu dizendo ‘não, mas eu estou colecionando Nintendo e SEGA, se eu pegar esse mesmo eu vou perder o foco’, aí rimos e ele devolveu, depois ele pegou um SEGA Mark 3.
Em outra ocasião, um garoto de 11 anos veio na loja e ele não descansou até conseguir pegar um Megadrive. Porque ele tinha conhecido o Sonic e adorava o personagem, então ele ficou muito feliz quando soube de onde ele vinha originalmente, foi incrível.”
Flow Games: E falando em preciosidades, qual o item mais raro que já passou por aí?
Gilão: “Eu tenho aqui um Atari de lojista, que talvez você tenha visto a história na internet até, sobre terem achado um lote lacrado no sótão de um lojista? São só 3 no mundo, e um deles está comigo.
Valia R$ 15.000 lá em 2017, hoje em dia deve estar entre R$ 30.000 e R$ 40.000. Mas já passou por mim protótipo de jogo do Dumbo, de Colecovision… fizeram um protótipo, que era o Onyx, né? E depois ele virou o Onyx Junior. Ele está comigo.”
Flow Games: O legal da nossa conversa é que acaba sendo até uma aula de história, eu nem conhecia esse protótipo até agora. Acho que o colecionador ajuda muito nisso da preservação, muita coisa se perderia sem eles, desde consoles até artes de manuais.
Gilão: “Eu faço parte do VGDB, você conhece? É um trabalho incrível do pessoal e lá tem mais de 50.000 scans. É pra isso, é para a gente não perder a história.”
Gilão é um dos responsáveis pela Retrocon
Como você viu aqui no site, a Retrocon 2024 vai acontecer nos dias 03 e 04 de agosto, e a sua primeira edição ainda deixa muitas saudades nos entusiastas de retrogaming. O museu que estava à dispoção lá, por exemplo, era formado por itens do Gilão e ajudou a dar um charme especial para a feira.
“A Retrocon é um evento de atrações e de estande, mas por focarmos nesse formato muita gente nos taxou de elitistas. Pura besteira, o evento é para toda a comunidade”, ele ponderou. “É complicado porque tudo o que você muda impacta, seja por ignorância ou por inveja. Mas com o público a aceitação foi incrível, vendemos todos os ingressos na primeira edição.”
Flow Games: E como surgiu a Retrocon?
Gilão: “Foi uma ideia nossa. Minha, do tiozão, e do Cleber também, claro. A ideia de poder reunir os youtubers, a comunidade, ter um lugar onde você faz isso fisicamente, aquele ambiente de locadora, de trocar ideia… é o que tentamos manter vivo.
Mas claro que tem também a parte comercial, expor a loja pra mais gente, abrir o leque pra mais público e sair da nossa bolha.”
Flow Games: Gilão, você é o cara. Foi um prazer passear pelo passado e presente dos videogames com você, e pode ter certeza que o público do site e do canal ainda vai te ver bastante por aí. Gente como você faz a gente sentir gosto de trabalhar nessa área.
Gilão: “Se você me perguntasse o que queria ser quando crescesse, eu queria ter uma loja de videogames. Então eu sou um cara realizado, até porque tenho a minha família junto. Problema aqui e ali todo mundo sempre tem, mas é isso. Eu sou muito realizado.”
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