Jogamos Assassin’s Creed Mirage: pegada “raiz” traz algo especial
Assassin’s Creed Mirage corrige vícios recentes da franquia e se livra de “elementos de RPG”
atural que Assassin’s Creed, assim como qualquer outra franquia longeva, tenha sido vítima de vícios criados pela própria série ao longo do tempo, afinal de contas, ninguém sobrevive nesta indústria sem aplicar mudanças – sejam elas bem ou mal recebidas pela comunidade.
Geralmente há um “ciclo” no mercado de entretenimento: a franquia nasce de um jeito, se transforma em outra coisa e, depois, regressa à forma original em caráter de apelo nostálgico.
A convite da Ubisoft, o Flow Games pôde jogar Assassin’s Creed Mirage por cerca de 4 horas para constatar que o passado é bem-vindo, mas também é capaz de se beneficiar de mecânicas modernas implementadas nos títulos mais recentes da franquia. Essa mistura do velho com o novo pode ser exatamente a fórmula de sucesso que a série buscava para voltar a ser especial.
Assassin’s Creed Mirage: há “elementos de RPG”?
O trio contemporâneo composto por Origins, Odyssey e Valhalla reformulou a franquia em vários sentidos: menos furtividade, mais foco em ação e incorporação de diversos elementos de RPG, um “fetiche” onipresente nas tendências de game design.
Como toda renovação, esta também teve seu prazo de validade, e os fãs clamavam por algo mais simples, mais voltado às raízes, em que o stealth e suas variantes ditavam o ritmo do gameplay. Dito e feito: Mirage parece ser o que há de melhor nos tempos áureos de Altair e Ezio Auditore.
Isso significa que mecânicas básicas como escutar conversas alheias, seguir alguém sem ser detectado, usar a multidão a seu favor e planejar minuciosamente um assassinato voltaram a ser o ás do baralho – e não a ação desenfreada imposta em Valhalla, por exemplo, que também tem seu mérito como um dos maiores sucessos comerciais da franquia.
Basim, o protagonista de Mirage, por acaso apareceu na jornada viking e seria o personagem central de um DLC, até que o projeto cresceu e ganhou pernas próprias. O herói herda características mais discretas, à la Altair mesmo, embora carregue uma certa teimosia puxada para o lado de Ezio.
O uso estratégico da lâmina oculta em montes de palha e arbustos voltou a ser relevante, e não mero acessório, assim como bombas de fumaça, facas arremessáveis e outros itens que compõem o conjunto furtivo do personagem, cuja simplicidade se livra do ímã do RPG e é mais centrada a uma experiência de ação e aventura com stealth. E sim, o salto de fé está de charme renovado também.
Combate moderno: sim!
Para efeitos de informação, o combate mano a mano, que geralmente se traduz em lutas de espadas, sempre foi secundário nos AC antigos, com um ar cinematográfico que permitia executar uma série de comandos automatizados na tela, sem muita técnica.
Os assassinatos, que lá no começo da franquia eram sempre um evento à parte, voltaram a ganhar esse charme estratégico
Embora esteja ancorado nos primórdios da franquia, Assassin’s Creed Mirage se apoia nos títulos recentes para entregar um combate robusto, que requer técnicas como parry, esquiva e cadência de golpes pensados – martelar o botão de ataque de qualquer jeito resultará em derrota.
Essa leve mistura do passado com o presente é exatamente o “ponto doce” de Mirage, que dá ao jogador a liberdade de escolher sua abordagem e, de forma surpreendente, consegue agradar os que priorizam stealth sem desabonar os impacientes de plantão, aqueles que preferem se expor na porrada franca mesmo.
Exploração, furtos, assassinatos, cartazes de procurado…
Explorar Bagdá é um convite a passear pelas grandes memórias que você teve com Altair. O ato de furtar alguém, técnica milenar que foi jogada de escanteio no decorrer da franquia, voltou a ser importante e faz parte do estilo discreto e elegante de Basim. O rápido mini-game exibido na tela permite que você execute isso sem complexidades, mas com algum senso de desafio – afinal de contas, nada é grátis, nem mesmo para Robin Hood, que representa uma espécie de bússola moral aqui.
A exploração pode trazer recompensas valiosas ou acarretar em consequências ao jogador que quiser roubar igual um cleptomaníaco. Os guardas caminham em bandos por todos os cantos e estão em constante vigilância. Como um ladrão, você pode ganhar status de procurado, daí a necessidade de encontrar e rasgar cartazes que expõem suas infrações, bem como subornar fofoqueiros que praguejam lá e cá sobre os cidadãos – incluindo Basim.
Os assassinatos, que lá no começo da franquia eram sempre um evento à parte, planejados e executados com astúcia e calma, voltaram a ganhar esse charme estratégico, que envolve aquele frio na barriga ao invadir uma fortaleza infestada de inimigos, com seu alvo bem lá no meio deles.
O simples ato de se PENSAR em como chegar a esse alvo ficou esquecido ao longo do tempo, pois o jogador era munido de tantos artifícios que arrebentar tudo se tornou mais fácil do que orquestrar um grande assassinato. Assassin’s Creed Mirage parece fazer questão de remediar isso.
Vejamos a versão final
Algumas ressalvas existem: como jogamos um recorte, resta aguardar o produto final para entender o ritmo do jogo, a distribuição de atividades opcionais e o quão repetitivas elas podem ser (ou não) no mundo aberto, o polimento em performance e a apresentação geral da história. Haverá, enfim, mais conexão com o presente? Uma retomada de foco no Animus a na Abstergo? O tom conspiratório? Só o tempo dirá.
Por enquanto, as expectativas são positivas, especialmente dentro daquilo que a franquia historicamente representa. Assassin’s Creed Mirage será lançado no dia 5 de outubro para PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC.
*Teste realizado via streaming a convite da Ubisoft Brasil.
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