Mortal Kombat: conheça o maior speedrunner BR da franquia
Entrevistamos o maior speedrunner brasileiro de Mortal Kombat! Conheça Alan Speed e sua trajetória
ortal Kombat 1 está quase completando 3 meses de lançamento. Com uma jogabilidade muito interessante, mesclando conceitos que se tornaram famosos em jogos como Marvel vs Capcom (assistências) e uma customização de personagem presente desde Armageddon na franquia, MK1 ainda manteve um gameplay bem característico da série, sendo mais fluido que o dos últimos títulos e memorável à sua maneira.
Uma das questões que mais chamaram a atenção no jogo é o fato de ser um reboot da série. Não só aproveitando o nome “Mortal Kombat 1” como também trazendo de volta personagens que há muito tempo não apareciam, como Havik, Motaro e Li Mei.
Nesta reportagem, mergulhamos no mundo das speedruns e no cenário de Mortal Kombat no Brasil por meio de uma entrevista exclusiva com Alan “Speed”, o speedrunner brasileiro mais renomado da série.
Primeiros contatos com Mortal Kombat
O paulista de 32 anos, criador de conteúdo, narrador e speedrunner, Alan Speed, ou simplesmente Speed, como prefere ser chamado, conta que sua relação com Mortal Kombat começou em 1995, em Mortal Kombat 3, quando ele tinha apenas 5 anos de idade. Um primo levou o cartucho para jogar com seu irmão durante uma noite e, após alguma relutância, apresentou o que se tornaria o seu título favorito de todos os tempos.
Somente em 2009 Speed começou a se aprofundar mais no jogo, quando conheceu uma comunidade no finado Orkut e se interessou por começar a competir online. Em 2012, ele mergulhou no cenário competitivo do jogo, viajando para competir em outros estados. Naquela época, já chamava a atenção por um motivo peculiar: ele era um competidor que usava o teclado. Embora hoje isso possa parecer comum devido ao fácil acesso de controles hit box e dispositivos similares, o player teve que criar uma verdadeira gambiarra para poder jogar com seu teclado em um console, um teclado mecânico de R$ 400 que ele economizou durante meses para comprar (nota: o salário mínimo em 2012 era de R$ 622). Nessa empreitada, ele contou com a ajuda do mesmo primo que lhe apresentou o jogo quando criança.
Em 2013, Alan começou a postar suas partidas em seu canal pessoal, bem como alguns tutoriais de combos e curiosidades sobre seu jogo favorito, sendo um dos pioneiros nesse tipo de conteúdo no YouTube, junto com canais como KOF Da Depressão. Sua incursão nas speedruns ocorreu quando ele começou a focar mais em fazer transmissões ao vivo por sugestão de seu próprio público.
Ele compartilhou:
Eu sempre fui um pouco relutante em relação às speedruns, mas teve um dia específico em que eu estava sem conteúdo para produzir e, 30 minutos antes da live, acabei decidindo que tentaria algumas speedruns. Assim que eu iniciei a transmissão ao vivo, havia quatro vezes mais pessoas me assistindo
Já no primeiro dia de tentativas, Speed conseguiu ficar entre os três jogadores mais rápidos de MK3 e teve uma ótima resposta de seu público, que gostou bastante da live focada em speedrun.
Bem, se você tem um conhecimento básico de inglês, deve estar se perguntando se o apelido escolhido por Alan tem algo a ver com a prática sagrada de se jogar contra o relógio. Obviamente faríamos essa pergunta, e o surpreendente é que a resposta foi “não”. Speed contou que o apelido remonta a 2009, quando ele entrou no cenário competitivo, e que o escolheu porque se lembrava de um jogador com o mesmo apelido que costumava jogar com ele nas nostálgicas épocas das lan houses. Assim, como uma forma de homenagear esse jogador que o inspirou a gostar de tecnologia e se aprofundar nos jogos, Speed adotou esse emblemático apelido quando entrou no cenário competitivo da FGC.
Acabou que veio muito a calhar, né?! Pois um dos meus personagens mais usados sempre foi o Kabal e eu sempre gostei de jogar de uma forma mais rápida nas minhas partidas competitivas
Quando perguntado sobre como ele vê o cenário atual das speedruns no Brasil, Speed comentou que sempre percebeu a qualidade dos runners brasileiros, tanto em jogos como Super Mario como em outros títulos, e que também vê isso nos jogos de Mortal Kombat, o que o deixa muito feliz por ser, também, um desses incentivadores do cenário de MK no país. Discorreu o runner:
Acho que o Brasil está muito bem servido de runners. Os que conheço pessoalmente são pessoas que gostam do que fazem e se dedicam à prática. Afinal, tem que gostar. E tem que gostar não só de ganhar, mas tem que gostar de aprender acima de tudo
Problemas com o Speedrun.com
Mas nem sempre a torre foi fácil na jornada de nosso corredor do mundo terreno. Já mesmo no ano de 2018, o então runner, que começava a dar seus primeiros passos, ou melhor, socos contra o relógio, sofreu um sério gancho perante o cenário. Em um vídeo postado em seu canal, Speed compartilhou com seu público sua experiência inicial com o maior site de classificação de tempos em speedruns, o speedrun.com.
O que aconteceu, de acordo com Speed, é que ele se dedicou tanto ao processo de grind em Mortal Kombat 2, obtendo tempos tão extraordinários e estratégias tão otimizadas, em um cenário que já estava estagnado há anos (speedruns de Mortal Kombat), que isso levantou suspeitas de alguns moderadores da página do jogo em relação à legitimidade de suas runs.
O problema surgiu depois de Speed enviar várias runs, que deveriam ser recordes mundiais, para verificação no site e perceber que elas não eram nem validadas nem rejeitadas. Além disso, começaram a surgir argumentos nos tópicos de discussão da plataforma, alegando que muitas runs enviadas tinham suspeitas de fraude. O argumento central era que os tempos eram tão perfeitos que não poderiam ser humanamente possíveis, mas eles não tinham como provar essas suspeitas, apenas se recusavam a aceitar as runs de Speed. Também pediram a implementação de novas regras para a verificação das runs, como a captura de inputs e outras medidas que ajudam na verificação de um speedrun sem trapaças.
Apesar de concordar e até mesmo ajudar os moderadores com propostas para aprimorar a verificação das runs, após 45 dias sem receber uma resposta sobre as runs enviadas, Speed foi surpreendido com uma notificação do site, informando que todas as suas runs anteriores haviam sido excluídas e que as não verificadas seriam rejeitadas. Isso convenientemente permitiu que os próprios moderadores do jogo no speedrun.com voltassem ao topo das leaderboards.
Embora o acontecimento o tenha afastado do cenário por um tempo considerável, o runner ainda recebeu apoio de vários membros da comunidade e de diferentes países que consideraram a situação bastante peculiar. Não que haja uma ligação direta com o que aconteceu, mas grande parte da equipe de moderação de Mortal Kombat 2 daquele período acabou sendo banida ou se afastou do site. Sobre o fato, Speed lembrou:
Resolvi não fazer mais speedruns por um tempo (…) Imagina você correr com risco de não aceitarem suas runs por uma acusação que os caras não conseguem sustentar, é um pesadelo
Felizmente, o runner não abandonou a prática e retornou às speedruns, conquistando novamente o topo das leaderboards com vários recordes mundiais após a mudança dos moderadores encarregados das verificações de novas runs e a implementação de novas regras. Sua run mais recentemente verificada foi na categoria Khameleon, de Ultimate Mortal Kombat 3, onde conseguiu o recorde mundial em 18 minutos e 38 segundos, superando o antigo tempo de 20 minutos e 18 segundos do recordista anterior.
Mais sobre o Speed Speedrunner
Perguntamos também se havia algum jogo ou categoria da franquia em que Speed teve mais dificuldade para começar a correr. O interessante foi que, em sua resposta, o runner mencionou a diferença significativa entre a categoria “Standard“, na qual se pode abusar de exploits do jogo, como sequências de socos consecutivos, e a categoria “No Major Exploits“, na qual não é permitido explorar esses bugs, e você só pode derrotar os adversários usando combos e magias. No entanto, parece que esse aumento na dificuldade fez bem ao runner, como ele mesmo comentou:
Foi aí que eu me desenvolvi de verdade. Eu já tinha vários recordes no soquinho, já tinha conseguido zerar o MK 2 em 2m e 58s. Nessa categoria, a máquina reage muito melhor, e foi ali que o Speed speedrunner nasceu mesmo. (…) Eu dominei muito a máquina, aprendi muita coisa
Speed conta que treinou por mais de 1 mês para conseguir bater o recorde de Mortal Kombat 2 na categoria No Major Exploits e que, para ele, é com toda certeza a máquina mais difícil de todos os jogos de luta. Sinceramente, quem já perdeu bons trocados na época dos fliperamas vai entender bem esse ponto.
Conversamos também sobre o modo história em jogos de luta. O que pode parecer um pouco desnecessário para muitos é motivo chave para tantos outros darem uma chance a determinado título. E não há como falar de modo história em jogos de luta sem citar o próprio Mortal Kombat, que, desde Armaggeddon, parece dar uma boa atenção para esse público que gosta das lores desses games. Perguntamos para Speed como ele via esse foco e se, para ele, isso poderia ser um atrativo também para as speedruns desses títulos.
Olha, pode ser sim. Inclusive eu já corri Mortal Kombat 11 no modo história e gostei muito. (…) Tem gente que corre o MK X nesse modo, tem gente que corre o MK 9, que inclusive tem uma run bem gostosa e bem desafiadora. No Speedrun, eu sinto que correr o modo história é uma pegada diferente, pois você tem que achar detalhes e acaba sendo mais interessante pois não fica tão repetitivo como no arcade mode, já que você vai ter que bolar e executar estratégias com praticamente todos os personagens. Então eu sou muito a favor sim e eu acho legal correr o modo história
Por fim, perguntamos para Speed como está a relação atual dele com o mais novo título da franquia, se as expectativas foram cumpridas e se ele tem interesse em produzir mais conteúdo de speedruns focado nesse novo game.
Ah, com toda certeza eu sinto um cenário para isso. Tanto na torre quanto no modo história, imagino sim que terá uma boa quantidade de runners. Além disso, MK1 vai trazer um modo chamado Invasões, que vai ter uma pegada mais RPG, onde você vai melhorando seu personagem colocando mais ataque, mais defesa, mais agilidade…literalmente um RPG. Eu acho que esse modo vai ser bem legal de se fazer speedrun
Bom, essa foi nossa conversa com Speed, contando um pouco sobre sua trajetória com Mortal Kombat e com o mundo das speedruns. Agradecemos demais ao runner por ceder seu tempo para conversar conosco e sempre lembrando que você pode acompanhar mais do trabalho dele seguindo-o nas redes sociais logo abaixo. Vocês gostariam que a gente tivesse um papo com o Speed ao vivo em um episódio do Flow Games? Comente aqui embaixo!
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