
Review: Digimon Story Time Stranger tem músculo para peitar Pokémon
Digimon Story Time Stranger reacende rivalidade com Pokémon e coloca as franquias em pé de igualdade novamente
Imagem: Bandai Namco
uem viveu o final dos anos 1990 e início dos anos 2000 presenciou a ascensão e o confronto direto entre as duas principais franquias de capturar monstrinhos. Pokémon e Digimon foram febre e disputaram a atenção da molecada nas manhãs da TV brasileira e, mais que isso, reacenderam uma rivalidade histórica entre Record e Globo, entre as apresentadoras Eliana e Angélica.
O embate saudável entre Digimon e Pokémon moldou o caráter de muita gente que testemunhou esses dois titãs japoneses atingirem o auge da popularidade na virada do milênio. Apesar da disputa ferrenha nos animes, devo admitir: Pokémon sempre esteve em vantagem nos videogames – e assumo isso com certa tristeza, já que tenho mais apreço por Digimon.
Digimon Story Time Stranger, novo jogo produzido pela Bandai, chega dias antes de Pokémon Legends: Z-A, relembrando os bons tempos de concorrência na televisão. Olha, fazia tempo que eu não via Digimon tão seguro no próprio taco a ponto de “peitar” um game de Pokémon na mesma janela de lançamento, mas essa confiança tem explicação: Time Stranger é o melhor título da série. Simples assim.
Digimon Story Time Stranger: personificado
Concebidos sob os alicerces de Persona, Digimon Story: Cyber Sleuth e Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory têm uma trama investigativa de filme, entrelaçada com a vida cotidiana, como cerne da experiência. Time Stranger também se apega à narrativa, à estrutura dos jogos anteriores, mas busca se desvincular do falatório, apostando em diálogos mais interessantes e objetivos.
Não se iluda: Time Stranger ainda é um RPG com foco na história, que desenvolve personagens sem pressa, mas que ao menos recompensa o jogador com ótimas interações entre humanos e Digimons – no plural mesmo, viu, Pokémon? Afinal, para quem não se lembra: sim, os monstrinhos falam aqui, não se limitando a repetir os próprios nomes, tal como acontece em outra franquia famosa por aí. E a Bandai ainda fez a boa: há suporte ao português do Brasil.
Em Time Stranger, você assume o papel de um agente da ADAMAS, uma organização sigilosa que opera nas sombras com a missão de investigar e conter fenômenos anômalos, rupturas entre o nosso mundo e o Digimundo. Cabe a você, portanto, agir como um detetive, tentando descobrir a origem dessas manifestações sobrenaturais.
A construção narrativa parece ter sido pensada como uma série de TV e sempre traz algum mistério que nos instiga a seguir para o próximo arco. Cliffhangers não faltam. O ritmo, contudo, não é dos melhores, visto que há explicações em excesso sobre praticamente tudo: história, mecânicas e personagens.
É preciso ser paciente nas primeiras seis, sete horas, que é o tempo que o jogo leva para se abrir e nos apresentar ao Digimundo, embora tenha menos enrolação e diálogos prolixos se comparado aos dois anteriores. Convém ressaltar, mais uma vez, que Time Stranger, assim como seus antecessores, continua sendo um game de Digimon com forte viés narrativo, um aspecto que pode dividir opiniões.
Um cartão-postal do Japão
Tanto quanto Persona, Digimon Story Time Stranger é um verdadeiro cartão-postal do Japão. Shinjuku, Akihabara e outros pontos turísticos marcantes de Tóquio estão representados com fidelidade e riqueza de detalhes, podendo ser explorados de cabo a rabo, ainda que os mapas sejam relativamente pequenos, com caminhos delimitados. Socializar com os NPCs dá gosto: todos têm algo curioso a compartilhar sobre esses lugares e os segredos que os cercam.
Tanto quanto Persona, Time Stranger é um cartão-postal do Japão

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Bater perna na Tóquio de Time Stranger, ao contrário de como é na vida real (quem já pegou o metrô de lá sabe bem do que eu estou falando), é super simples: há indicadores para tudo. Os pontos de interesse são bem definidos, e você raramente se perde. Além disso, é possível fazer viagens rápidas a qualquer área, ao alcance de um botão, caso queira poupar fôlego.
A linearidade, no entanto, às vezes incomoda, sobretudo nas dungeons. Quase não existem rotas paralelas para seguir, nem mesmo nos momentos com mais gameplay. Os baús com itens e dinheiro quase sempre fazem parte do percurso e não causam qualquer surpresa quando os encontramos. Em outras palavras, há poucas brechas para explorar: o que se vê são longos corredores, por vezes vazios, nos quais tudo parece meio “espremido”.
Enquanto os ícones exercem o papel crucial de guiar o jogador da melhor forma, os menus, por outro lado, são um tanto bagunçados e pedem cliques extras para tarefas básicas, desde modificar os membros da party de seis Digimons, o que inclui equipá-los com acessórios, até evoluir as habilidades do protagonista.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Sim, tudo é uma questão de decorar o itinerário de cada coisa, mas bem que Digimon Story Time Stranger poderia ter incorporado os elementos de interface de Persona, sua principal influência, cujos menus estilosos e organizados dão outra cara aos sistemas de RPG que conhecemos. Não chega a ser um problema grande, é claro, mas mexer nos menus do jogo não é lá algo tão intuitivo assim.
Temos que converter
Elemento fundamental de qualquer jogo de captura de monstros, o colecionismo de Digimon Story Time Stranger é viciante e menos burocrático do que costuma ser. Derrotar um Digimon em combate eleva a taxa de análise dele, o que permite adicioná-lo ao seu grupo por meio de um processo de conversão ou, como gosto de chamar, de digitalização – bem, são monstros digitais, afinal.
Criar um novo Digimon a partir dos dados de batalha dele favorece muitas coisas, em especial o lance de colecionar. Converter um Digimon, bem como Digievoluir, são ações autoexplicativas e que, com o tempo, se tornam automáticas, tamanha a facilidade. A lista é generosa e oferece mais de 450 criaturas para obter no Digidevice, servindo como combustível para o fator replay, especialmente para quem deseja pegar todos os bichos no pós-jogo.
O colecionismo de Digimon Story Time Stranger é viciante e menos burocrático do que costuma ser em jogos do tipo

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
À medida que o jogador utiliza um Digimon nos embates e ele, por consequência, sobe de nível, sua personalidade vai sendo moldada a partir de pequenas escolhas nos diálogos. Se a criatura apresentar traços de filantropia, os atributos de curandeiro evoluem acima dos demais, enquanto a amigabilidade, em contrapartida, aumenta a defesa.
Essas minúcias no sistema de desenvolvimento de Digimons aproximam Digimon Story Time Stranger da profundidade da relação entre treinador e monstrinho digital que normalmente é abordada nos animes, mas que nunca (não nos games) recebeu tanta atenção e carinho quanto aqui. Você sente que suas decisões têm um impacto significativo na maneira como seus monstros ganham forma.
Combate objetivo
Beneficiando-se das conveniências trazidas pelas produções recentes da Atlus, também bebendo da fonte dos jogos atuais de Pokémon, Scarlet/Violet e Legends: Arceus, Digimon Story Time Stranger corta burocracias para tornar seu combate por turnos mais dinâmico e descomplicado, proporcionando um grind “saudável”, cuja repetição não é nada maçante, mas rápida e prazerosa – e sim, há recursos disponíveis para acelerar a velocidade das lutas.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Como em outros títulos da franquia, os Digimons têm resistências elementares e de traços, o que influencia diretamente o dano causado. Entender a matriz de compatibilidade com vacina, vírus e dados é um componente obrigatório para se sair bem, mesmo na dificuldade mais baixa – leia-se modo fácil. Por sorte, há indicadores visuais que permitem capitalizar pontos fracos sem a necessidade de decorá-los na cachola, o que é uma mão na roda para quem tem memória curta.
O flerte com ações em tempo real também fez bem ao ritmo do combate. Com um único botão, você pode enfrentar um Digimon hostil por meio de um Digiataque, um tipo de investida especial que seleciona automaticamente a habilidade mais forte do seu monstrinho principal. Se o oponente for de nível baixo, o golpe é fatal: vitória garantida sem nem precisar acionar a batalha por turnos.
Não seria exagero dizer que Digimon Story Time Stranger entrega o melhor combate já visto em toda a trajetória de Digimon nos videogames. De forma sucinta, é como se todas as partes “chatas” e morosas de um sistema de turnos tivessem sido milimetricamente aparadas, em prol de uma experiência mais convidativa e, sobretudo, de um ritmo mais agradável e constante. Tudo é simplesmente muito prático.
Não seria exagero dizer que Time Stranger entrega o melhor combate já visto em toda a trajetória de Digimon nos videogames

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Veredito
Digimon Story Time Stranger vai além e não se satisfaz em ser apenas mais um jogo de anime “padrão”, daqueles nota 6. Com um valor de produção mais elevado do que o habitual para a franquia, uma história soberba e um combate por turnos que soube se modernizar, o título não permite que o início lento e a linearidade excessiva desqualifiquem seus méritos. Time Stranger é uma jornada feita para quem respira Digimon, mas acessível o bastante a quem deseja desbravar o Digimundo pela primeira vez.
Analisado no PS5 Pro.
Uma cópia de Digimon Story Time Stranger foi gentilmente cedida pela Bandai Namco para o propósito de análise
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Digimon Story Time Stranger
Publisher: Bandai Namco Entertainment Inc.
Desenvolvedora: Media.Vision Inc.
Plataformas: PlayStation 5, Xbox Series S|X e PC
Lançamento: 03/10/2025
Tempo de review: 47 horas
Digimon Story Time Stranger celebra todas as gerações da série com combate modernizado e história soberba
Prós
- História soberba, apesar do ritmo moroso
- Ambientação caprichada, um cartão-postal de Tóquio
- Combate ágil e com ajustes que favorecem o jogador
- Conteúdo robusto, que celebra todas as gerações
- Textos em português do Brasil
Contras
- A linearidade pode incomodar
- Menus um tanto desorganizados











Comentários
Finalmente uma review que dá pra perceber que a pessoa jogou o game, parabéns!
Gostei, parabéns