
Review: Silent Hill f retorna à glória da franquia com DNA próprio
Nós já terminamos Silent Hill f e você confere o nosso review completo: vale a pena?
Imagem: Konami
ilent Hill f é um spin-off bem diferente e, ao mesmo tempo, familiar. Caso não tivesse o nome da franquia no título, com certeza teria comentários como: "esse jogo passa muitas vibes de Silent Hill". Entretanto, por mais que novas ideias e um novo DNA surja aqui, ele tem o que há mais importante para série: alma e coração.
Na campanha, tive apenas um pedaço do quebra-cabeça montado na intrigante e cativante história. Essa espiral de descida ao sobrenatural ocorre por qual motivo? Seríamos nós uma vítima do fenômeno paranormal de Silent Hill ou estaríamos no papel vilão dessa história? As sombras projetadas são frutos de traumas ou de consequências de eventos terríveis?

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No decorrer da aventura, tive uma das melhores ambientações e atmosfera da franquia, uma história intrigante e recheada de mistérios, e principalmente um combate que, embora estranho e deslocado, se tornou muito competente e satisfatório.
Com cerca de 14 horas de duração, a campanha do jogo me trouxe um excelente enredo uma das tramas mais interpretativas e pesadas da série, mas em troca de um terror mais leve. Confira o nosso review completo de Silent Hill f!
História bem interpretativa e com fator replay
Em Silent Hill f, seguimos a jovem Shimizu Hinako, que tem alguns problemas logo de cara que dão o tom do que esperar na campanha. A protagonista tem uma personalidade um pouco destoante da pacata cidade de Ebisugaoka, rompendo os padrões da sociedade japonesa rural dos anos 60.
Por conta disso, Hinako tem problemas com a família, que também tem sua própria dose de distúrbios, além de uma relação estranha com seu círculo de amizades. A trama não demora a trazer elementos desconfortáveis e já dar o pontapé de eventos que vão nos levar a uma espiral rumo ao inferno.

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Silent Hill f parece ter uma ênfase consideravelmente maior em trazer elementos de história na campanha: há bastante cutscenes e muitos momentos para apresentar personagens, dinâmicas sociais e construir a clássica sensação de desconforto e inquietude – certamente, há algo (ou mais de uma coisa) errado e não sabemos apontar exatamente o quê.
Tudo isso é mesclado com o misterioso mundo dos templos que Hinako acessa ao dormir ou desmaiar. Por lá, há a outra figura misteriosa do Homem Raposa, que parece ser um aliado às vezes e um antagonista em outras. Esse outro lado do enredo parece não se concatenar com o que vemos na cidade de Ebisugaoka, até que, eventualmente, as coisas começam a clarear.
Todos esses aspectos de Silent Hill f nos faz pensar o que é real, o que é paranormal e o que é ilusão, se é que há uma resposta para isso. Quem é amigável e quem é o vilão? Somos a vítimas ou somos parte de algum evento moralmente borrado?

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Durante a campanha de Silent Hill f, somos impactados com elementos narrativos que muitas vezes se contradizem, projetando dúvidas sobre o passado de todos os personagens. E, diferente de outros títulos da franquia, terminar a aventura não necessariamente trará respostas concretas.
Eu vou evitar dar detalhes do enredo de Silent Hill f (portanto, sem spoilers), mas todos os marcos de uma boa campanha da série estão aqui. Por mais que seja um spin-off, a nova entrada da franquia é possivelmente a melhor desde que a Team Silent debandou em 2004 (sem contar Silent Hill 2 Remake).
Silent Hill f talvez tenha uma das histórias mais interpretativas até hoje. Terminar o jogo não necessariamente pinta o quadro completo e é necessária muita atenção aos arquivos espalhados pelo mapa, pelos diálogos e conexões. Além disso, há uma escolha curiosa por aqui.

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A Konami já confirmou que há 5 finais ao todo: um padrão, três alternativos e o clássico de OVNI. Ao finalizar o game pela primeira vez, é possível ver as condições para conquistar os fins diferentes, o que ajuda bastante. Mas por que perseguir os desfechos distintos?
Ao iniciar o New Game+, as coisas se misturam um pouco e realmente adorei isso: além de vermos a trama com uma nova e mais clara perspectiva, alguns diálogos e cenas mudam, novas áreas são abertas e há espaço para compreender melhor o enredo. Tenha isso em mente: finalizar apenas uma vez Silent Hill f traz um panorama incompleto e é preciso recomeçá-lo para entender mais.
Além de ser um excelente fator replay, é uma ótima maneira de revisitar os eventos com uma nova ótica. O roteirista do jogo é Ryukishi07, reconhecido pelo seu trabalho em terror psicológico de Higurashi When They Cry, e ele novamente oferece uma trama muito intrigante que me prendeu do começo ao fim.

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Porém, não se engane: Silent Hill f não tem um enredo fácil de digerir. Temas pesados, múltiplas linhas narrativas para conectar e uma representação cultural bem distinta do que estamos acostumados. Mas se você gosta de uma história densa e que não subestima o jogador ao mastigar tudo, terá uma joia para aproveitar aqui.
Silent Hill f acerta em cheio no clima pesado
Particularmente, talvez para mim o clima e a atmosfera de um bom Silent Hill podem superar a própria trama. Até mesmo alguns dos jogos da série que tinham uma história intrigante acabaram ofuscados por uma ambientação genérica que não sabe passar os sentimentos tão únicos da franquia.
Felizmente, Silent Hill f está longe de cometer esse erro. Na verdade, é bem o contrário. Embora não se passe na cidade homônima que dá nome à IP, a cidade de Ebisugaoka é um dos maiores acertos do jogo, se tornando um personagem por si só que nos amarra nessa experiência agridoce.

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Um dos temas principais de Silent Hill f é encontrar a beleza no terror e, de uma maneira que talvez eu não consiga explicar, isso é conquistado com maestria. A série no seu auge sempre soube evocar sentimentos bem específicos e pouco tangíveis, misturando um horror muito pesado com momentos de paz, por mais paradoxais que sejam coexistir.
Um dos maiores trunfos dessa nova ambientação é explorar o horror japonês de forma exímia, trazendo uma boa dose de desconforto sem motivo aparente. A maneira como a equipe da Neobards soube trabalhar esse período específico e uma cultura diferente é espetacular.
Silent Hill f se passa nos anos 60 no Japão, uma época antes do boom tecnológico oriental, e em uma cidade rural. Por conta disso, a chegada da modernidade dá suas caras, mas há uma raiz muito forte no misticismo, folclore e lendas locais, que muitas vezes têm mais importância que a própria ciência e a razão.

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Os arquivos espalhados pelo mapa são essenciais para entender mais da história e, ao mesmo tempo, enriquecem o universo. Em um deles, por exemplo, alguns bêbados chutaram a estátua de Inari-sama, a deusa raposa local, e apareceram mortos em circunstâncias bizarras. Notícia, lenda ou algo relacionado à protagonista? Fica ao seu cargo interpretar.
Por conta disso, essa ambientação é um terreno fértil para trazer o que a franquia tem de melhor, com uma atmosfera opressora e encantadora, que é um dos pontos positivos principais de Silent Hill f. Contudo, se há um elemento que fica devendo é o terror absoluto, talvez até mesmo por conta do gameplay construído.
Gameplay muito competente, mas há um porém
Quando fiz o preview de Silent Hill f, eu enalteci o combate e gostei do que eu vi, mas também expressei um sentimento conflitante: para um jogo de terror, esse estilo era um pouco ação demais. Entretanto, com mais tempo e com uma compreensão melhor, acabei gostando muito do sistema implementado aqui.
Silent Hill f não tem nenhum tipo de arma de fogo, apenas combate corpo a corpo, se ajustando à temática de onde se passa. Para balancear isso em um survival horror, a Neobards construiu um sistema de armas brancas quebráveis e muita dependência de coleta de recursos, que podem ser escassos.
No geral, essa mecânica funciona muito bem, mesmo que cause uma estranheza em um primeiro momento. Por mais que Hinako seja uma jovem vulnerável, ela se vira muito bem contra os monstrengos ao aproveitar a barra de vigor, esquivas, contra-ataques e golpes especiais.

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Confesso: gostei muito mais do que minhas impressões iniciais previam. Há uma grande variedade de inimigos, e, ao menos no modo Difícil, tive uma dose perfeita entre recursos escassos e lutas, algo digno de um bom survival horror. É preciso gerenciar a durabilidade das armas, os itens de cura e a barra de sanidade.
Um aspecto legal por aqui é que esses mesmos itens possuem duas funções: recuperar sua saúde, vigor e sanidade, e também servir de oferenda em santuários para aprimorar permanentemente os seus atributos ou ganhar equipamentos. Novamente, cabe a você balancear se vai economizar a longo prazo ou gastar em lutas.
Há outros aspectos interessantes em Silent Hill f também, como campo de visão dos inimigos e fugir das batalhas, e um recurso especial chamado de sanidade. Ele basicamente serve para ver melhor a janela de contra-ataques enquanto se foca nos monstros, mas isso faz Hinako olhar o terror de frente, causando dano em sua saúde mental. Caso se esgote, você perderá vida.

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Por mais que muitos tenham comparado o combate do jogo a um soulslike, há apenas leves semelhanças e, na prática, ele passa longe de ser isso. A dificuldade não é muito alta e, embora haja pontos de upgrades e artefatos equipáveis, o jogo está mais próximo de um terror convencional.
Silent Hill f traz um sistema de luta bem satisfatório, por mais que seja um pouco destoante da temática mais pé no chão. O problema é conforme a mecânica de combate se torna natural, ficamos mais confortáveis em enfrentar ou fugir de inimigos, tirando um tanto do fator terror.
Ao menos os quebra-cabeças são bem interessantes. Realmente amei os puzzles de Silent Hill f, que traz desafios que não menosprezam o intelecto do jogador. Além disso, todos os enigmas acontecem em tempo real (ou seja, você pode ser atacado enquanto desvenda um obstáculo) e têm uma ligação com a história pessoal de Hinako, um verdadeiro deleite.

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Mecanicamente, Silent Hill f é muito bom. Mas tão bom que, no fim, pode acabar ofuscando um pouco do elemento de terror. Além disso, por mais que a campanha de 12 a 14 horas seja muito boa, confesso que gostaria de um pouco mais de backtracking e um aproveitamento melhor do cenário fantástico.
Um milagre: um jogo lindo e otimizado da Unreal Engine 5
Nos últimos lançamentos, Unreal Engine 5 e otimização não são palavras que normalmente andam juntas. Entretanto, parece que a equipe da Neobards realmente se excedeu tudo com Silent Hill f, inclusive na parte técnica. Acreditem se quiserem, mas o jogo parece muito bem otimizado.
Além de ter uma direção de arte belíssima que contribui imensamente com a atmosfera feita sob medida, o jogo também parece rodar muito bem. Em um PC high end, com uma RTX 5080 e um i7-13700K, tive desempenho muito acima dos 100 fps com tudo no Ultra, DLSS Qualidade e em 1440p, sem gargalos ou travamentos de shader compilation.

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Em partes mais avançadas, tive um problema de a performance cair para 10 fps por alguns segundos, mas pode ter sido algum bug ou problemas no meu PC, porque nunca mais aconteceu. Fica o alerta, mas, de qualquer forma, foi um momento raro. Não tive como verificar nos consoles, mas segundo o Digital Foundry, a demo do PS5 na Gamescom foi exemplar.
Além de esbanjar visuais belíssimos, a sonoplastia é de primeira. Os efeitos sonoros aterrorizantes sempre atuam no momento certo (embora não sejam tão bons quanto o que vimos em Silent Hill 2 Remake) e a música, novamente, traz a cereja do bolo da experiência.
Akira Yamaoka retorna como compositor e encapsula perfeitamente o sentimento agridoce, a atmosfera japonesa folclórica e momentos de calmaria, criando uma trilha sonora digna da velha guarda da série.

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Silent Hill f vale a pena?
Silent Hill f pode não ser um jogo principal da franquia, mas diferente de outros games da série que vieram após a debandada da Team Silent em 2004, ele acerta todas as notas, ritmo e temas que um bom título precisa. E, por incrível que pareça, isso não é uma tarefa fácil, já que muitos dos sentimentos não facilmente replicáveis e que dependem de muitas nuances.
A nova entrada da série marca todos os checklists do que vimos em outros games lendários da franquia, tem uma trama extremamente intrigante, interpretativa e com alto fator replay, lutas competentes e puzzles muito bem-desenhados. Entretanto, há alguns pontos que tiram levemente esse brilho.

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O combate, após ser compreendido e dominado, junto com uma campanha que já não traz os maiores momentos aterrorizantes que já vimos, podem quebrar um pouco a expectativa. Além disso, mesmo que a aventura tenha suas 12 a 14 horas de duração, gostaria de ver a cidade de Ebisugaoka mais bem explorada e com mais backtracking.
Silent Hill f continua sendo um jogaço, apesar de alguns pontos de atenção. E, isso vindo de uma nova entrada na série, é quase uma benção para o fã da franquia.
Silent Hill f foi gentilmente cedido pela Konami para a realização desta análise.

Silent Hill f
Publisher: Konami
Desenvolvedora: Neobards
Plataformas: PC, PS5 e Xbox Series
Lançamento: 25/09/2025
Tempo de review: 20 horas
Silent Hill f é um excelente retorno à franquia e traz temas e clima incríveis, embora peque um pouco no terror.
Prós
- Narrativa muito intrigante e pesada
- Fator replay é bem aproveitado
- Atmosfera e clima dignos do ápice da série
- Combate muito competente e balanceado
- Apresentação audiovisual extraordinária
Contras
- A campanha poderia ser um pouco maior
- O clima de terror é bom, mas poderia ser mais acentuado











Comentários
Ótimo review, explicou tudo direitinho nem queria jogar mas agr dps de ver a matéria me deu vontade haha
Meu interesse principal era por ser do Ryukishi07. Gosto muito da escrita dele pelas VNs de Higurashi e Umineko. Boa review.