Review: Sand Land é um deserto de ideias
Infelizmente, Sand Land é um jogo desprovido de diversão e só o carisma de Toriyama salva
m muitos sentidos, o jogo Sand Land carrega um peso ingrato que ele nunca pediu para — e nem merecia — carregar. Com a triste morte do lendário mangaka Akira Toriyama, coube a ele a responsabilidade de ser a sua primeira obra póstuma.
Inspirado no mangá homônimo escrito e ilustrado por Toriyama em 2000, o game desenvolvido pela ILCA (do competente One Piece Odyssey) certamente se esforçou em sua apresentação gráfica, que possui muito da identidade visual esperada das obras do autor. Mas os méritos param por aí.
Seria muito condescendente da minha parte pegar leve com Sand Land apenas por sua fidelidade estética (sem falar na nostalgia e carinho que são automaticamente atrelados ao nome de Toriyama nesse momento em que muitos fãs ainda estão de luto). O maior ato de respeito possível, então, é analisar o jogo pelo que ele realmente é, sem pegar leve.
E infelizmente ele acerta em pouquíssimas coisas. Os seus raros momentos bons residem justamente nos segmentos em que estamos mais assistindo aos personagens como se fosse um anime do que propriamente jogando. Afinal, o jogo em si é desprovido de diversão; uma imensidão de tédio e falta de propósito. Entenda no review completo a seguir.
O legado de Toriyama carrega Sand Land
Eu não sei você, mas eu pelo menos não tinha lido ou visto Sand Land antes de começar a jogar, e acho importante destacar isso de cara porque mesmo sendo um marinheiro de primeira viagem, isso esteve longe de ser um problema. Muito pelo contrário até!
Justamente porque o DNA de Toriyama na concepção da história e dos personagens foi a única coisa que me manteve fisgado consistentemente ao longo da campanha. Mesmo nos piores momentos de Sand Land, eu gostava dos personagens e estava curioso para saber que aventuras os aguardavam, então foi até bom estar meio por fora.
Ainda nos elogios ao valor da produção em si, a esmagadora maioria das falas foram dubladas tanto nas cutscenes como nos diálogos com NPCs ao longo das missões principais e secundárias, e isso ajuda a dar uma carinha de anime à produção.
Só que isso também levantou uma pergunta que até agora me atormenta: se as melhores partes do jogo são os personagens, histórias, humor e cenas, não era melhor usar o meu tempo assistindo ao anime de Sand Land ao invés de jogando?
Tão divertido quanto andar por horas no deserto
Como o próprio nome já indica, a sua aventura em Sand Land será majoritariamente situada em desertos, e os desenvolvedores acharam que seria uma boa ideia transformá-lo em um mundo aberto. No papel, isso até que poderia dar certo, já que desertos são um bioma interessante, como vimos no divertido jogo do Mad Max duas gerações atrás, por exemplo.
O problema aqui é que a estrutura de gameplay é aquele velho “trabalho de office boy”, onde o mundo aberto é apenas uma desculpa para andar do ponto A até o ponto B a fim de cumprir uma missão ou receber uma nova quest. Até as missões paralelas não oferecem nada muito diferente disso.
Desde bem cedinho na campanha você pode alternar entre explorar a pé ou em veículos, mas a diferença prática é bem pequena. Sim, o tanque tem mais poder de fogo, enquanto o Pulabot pode saltar até locais mais altos, mas o loop de gameplay mal é impactado por isso de forma significativa.
Afinal, o senso de desafio inexiste. Seja enfrentando um inimigo qualquer no mapa ou um chefão climático, você só precisa ficar rodando ao seu redor para vencer sem sequer tomar dano. Há missões paralelas com caçadas, e elas também funcionam na mesma lógica.
De que adianta grindar para obter mais materiais para melhorar o seu veículo com novas partes se o resultado prático é sempre lutar do mesmo jeito? Variedade certamente não é o forte por aqui, e a fadiga aumenta a cada hora que passa.
Como a dificuldade é nula, o sistema de árvore de habilidades desaba junto, e você nem precisa usar movimentos especiais para zerar. A Skill Tree está lá de forma protocolar seguindo as convenções sem inspiração da maioria dos AAA, assim como as onipresentes torres destraváveis ao melhor estilo Ubisoft, mas toda interação com essas coisas não vai muito além de um “ok, e daí?”
Com uma trilha sonora bem genérica ao fundo de suas explorações, o que impera é o vazio existencial a cada minuto andando em vão pelas areias.
Vale a pena jogar Sand Land?
Que fique claro, apesar de tudo o que falei, o tempo inteiro eu tentei gostar do jogo e nunca o encarei de má vontade, mas é difícil demais encontrar palavras gentis ou um público alvo que vá gostar de Sand Land.
Há inúmeros mundos abertos mais divertidos e instigantes por aí, e até mesmo se você só quiser uma boa aventura inspira do Toriyama, faz muito mais sentido jogar o superior Dragon Ball Z Kakarot.
Há coração em Sand Land, e certamente quem fez o jogo tem evidente apreço pela obra original. Mas com o perdão do trocadilho com o nosso querido protagonista demoníaco, de boas intenções, o inferno está cheio.
Sand Land
Publisher: Bandai Namco
Desenvolvedora: ILCA
Plataformas: PC, PS5, PS4, Xbox Series X/S
Lançamento: 26/04/2024
Tempo de review: 18 horas
Sand Land é um jogo triste. Por mais que capte bem a essência do humor, narrativa e personagens de Toriyama, o gameplay que cerca isso oferece muito pouco para entreter o jogador.
Prós
- O design de personagens e humor são puro Toriyama
- História interessante (graças ao material original)
Contras
- Mundo aberto é um deserto literal e figurativo
- Ausência completa de desafio leva ao tédio
- Missões nada inspiradas e super repetitivas
- Falta de variedade de inimigos e táticas
- Sistemas de RPG lite inúteis
- Trilha sonora genérica e sem inspiração
Comentários
Triste, um jogo que seria uma certa “homenagem” ao Toryama ter lançado neste estado. Agora, provavelmente vai acontecer o que acontece na maior parte dos jogos atualmente, vão lançar um monte de atualizações e updates para tentar melhorar.