Review: Flintlock The Siege of Dawn é soulslike das férias
Seguindo uma conhecida receita, Flintlock The Siege of Dawn não surpreende, mas diverte
ançado num período estratégico do ano, em que a entressafra carrega aquela típica escassez de grandes lançamentos e, portanto, cria lacunas para títulos que poderiam passar batidos, Flintlock The Siege of Dawn é um jogo que, de certo modo, se beneficia das férias.
Anunciado no início de 2022, o RPG de ação é uma assinatura do estúdio neozelandês A44, o mesmo que desenvolveu o cultuado Ashen. De lá pra cá, o time aliou-se à Microsoft para mostrar a aventura em eventos do Xbox e garantiu o almejado lançamento no Game Pass – a partir de 18 de julho de 2024 –, chegando também ao PS5 e ao PC.
Propondo-se a ser um “souls-lite”, isto é, uma experiência com inclinações mais amigáveis da fórmula masoquista criada pela FromSoftware, Flintlock The Siege of Dawn quase tentou dar um passo maior que a perna em sua composição de porte médio, porém, embora apresente estrutura conhecida, deixa espaço para algumas decisões interessantes. É praticamente um “soulslike das férias”.
Flintlock The Siege of Dawn: satisfatório e simplório
Na pele da guerreira Nor, a aventura traz uma salada de deuses e diferentes planos espirituais se misturando ao nosso. Entre essas divindades destaca-se Enki, o companheiro do jogador durante toda a jornada, uma raposa falante que busca vingança contra outros deuses formidáveis que ameaçam destruir as terras de Kian. A sua missão é impedir o domínio dessas forças opressoras.
Entidades como Uru, o grande guardião alado da porta para o Mundo Inferior, e o multi-armado Rammuha, que despreza e teme o poder explosivo da pólvora, estão entre os algozes de Nor. Para lidar com tais ameaças, a protagonista empunha um arsenal composto por recursos corporais e armas de fogo, as “flintlock”, além da magia devastadora de Enki.
Flintlock The Siege of Dawn traz um arranjo formulaico em seu desenho principal. Combate com mira travada, exploração não linear e level design por vezes simplório oferecem sabores mistos, em que a dopamina do jogador se alterna entre o alto e o baixo num combate satisfatório e uma estrutura que rapidamente cai na repetição.
A escola FromSoftware se faz presente em praticamente todos os pilares dos confrontos, com especial lembrança a Bloodborne, em que o jogador pode usar uma arma de fogo para interromper ataques inimigos. Some a isso esquiva, defesa (com direito a parry) e as habilidades de Enki para ganhar uma pitada de magia às batalhas e você não tem nada de novo sob o sol, mas mecânicas funcionando com eficiência.
Progressão funcional, mas…e a inteligência artificial?
Para dar um alívio às lutas e andanças, Flintlock The Siege of Dawn apresenta um jogo de tabuleiro chamado “Sebo”, uma espécie de damas com toque adicional de complexidade. Você desafia NPCs espalhados pelo mundo para se envolver com essa atividade opcional, que traz um bem-vindo respiro entre um combate e outro.
A questionável decisão de design reside em certos locais nos quais esses personagens estão presentes. Alguns deles estão simplesmente ao lado de inimigos, aguardando sua chegada como robôs, ignorando toda e qualquer existência de uma força maligna ao redor deles. Um ou outro ainda tem a audácia de dizer que se sente “entediado” por estar ali. Essas pequenas incoerências afligem um pouco a experiência de Flintlock The Siege of Dawn.
A progressão é eficaz. Nada de novo sob o sol, mas mecânicas que funcionam com eficiência
Os textos, aliás, oferecem diálogos por vezes “óbvios”, que talvez diminuam a imersão ao invés de aumentá-la – em outras palavras, o silêncio seria uma opção melhor do que alguns trechos de conversa.
A progressão, por outro lado, é funcional. Você evolui suas armas corporais, os trabucos de fogo, os equipamentos coletados (elmo, ombreira e manoplas) e as capacidades mágicas de Enki. Flintlock The Siege of Dawn compensa o jogador que explorar cada canto do mundo sem seguir a rota principal, entregando itens raros, segredos e atalhos de travessia – que ganham um encanto extra com o deslocamento aéreo de Enki por entre fendas descobertas.
A velha premissa de eliminar o líder para liberar uma área infestada de inimigos está aqui e essa talvez seja a enésima vez que presenciamos isso num jogo, certo?
Veredito
Flintlock The Siege of Dawn consegue apresentar um saudável sistema de combate intercalado entre corpo a corpo e armas de fogo, com foco distribuído igualmente entre as duas formas.
Talvez um tanto pretensioso em sua história de divindades ou sem conseguir apresentá-la de forma tão exuberante quanto poderia ser, o jogo erra e acerta em medidas parecidas, ainda que consiga sustentar seu arroz e feijão em bom grau de eficiência.
A repetição é um fardo que rapidamente recai sobre a jornada, a qual, em meio a essa gangorra de sentimentos, consegue retribuir os jogadores que derem uma chance maior a Flintlock The Siege of Dawn.
Analisado no PS5.
Uma cópia de Flintlock The Siege of Dawn foi gentilmente enviada ao Flow Games para a realização desta análise.
Flintlock: The Siege of Dawn
Publisher: Kepler Interactive
Desenvolvedora: A44 Games
Plataformas: PS5, Xbox Series X|S e PC
Lançamento: 18/07/2024
Tempo de review: 30 horas
Simplório e satisfatório, Flintlock: The Siege of Dawn erra e acerta em medidas parecidas. A repetição é um fardo que aparece cedo, mas pode ser apaziguada com o divertido combate
Prós
- Combate eficiente e que aproveita todo o arsenal
- Exploração recompensadora a quem vasculhar tudo
- Travessias aéreas e minigames que aliviam lutas
Contras
- O aspecto repetitivo aparece cedo
- Comportamento estranho de NPCs e IA geral
- Simplório onde poderia ser mais robusto
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