Review: Indiana Jones e o Grande Círculo é um artefato precioso
Leia a nossa análise completa do surpreendente Indiana Jones e o Grande Círculo!
sabedoria popular diz que um bom design de personagem é "aquele que você reconhece só pela silhueta", e não há símbolo melhor dessa máxima do que o Indy, o nosso arqueólogo com chapéu Fedora favorito.
Apear de alguns jogadores terem se incomodado com o anúncio de que Indiana Jones e o Grande Círculo seria jogado em primeira pessoa, a decisão acabou se revelando uma baita sacada da desenvolvedora MachineGames.
Não que isso seja de todo surpreendente para quem acompanha a sua carreira, já que ela já vinha mandando bem com Wolfenstein há um tempão. Aqui, eles transcenderam e souberam unir em um só pacote um profundo respeito pela franquia Indiana Jones com as melhores tecnologias gráficas da geração, abusando dos efeitos de iluminação para garantir que a todo instante, mesmo sem ver ativamente o personagem na tela, a gente se empolgue vendo a sua silhueta nas sombras onipresentes.
É um truque saído diretamente do livro de jogados do George Lucas e Steven Spielberg capitalizar no impacto da marcante silhueta do personagem, e eu fiquei muito feliz ao ver que os desenvolvedores fizeram a lição de casa direitinho. Após um frustrante filme de despedida com Indiana Jones e a Relíquia do Destino, agora sim temos uma carta de amor digna ao lendário personagem vivido por Harrison Ford. Já não era sem tempo.
Seja o Indy!
Você lembra de quando a Rocksteady trabalhava na maravilhosa trilogia Arkham e usava o slogan “Be The Batman” (“Seja o Batman”) no seu marketing? Acabei lembrando disso ao longo do meu gameplay de Indiana Jones e o Grande Círculo.
Para fins de transparência (e não de carteirada), acredito que joguei todas as principais aventuras do personagem nos videogames até hoje. De Fate of Atlantis a Infernal Machine, das tranqueiras do Master System e NES à gloriosa trilogia cheia de ação do SNES, e posso afirmar que eu nunca me senti tão na pele do Indy quanto em Indiana Jones e o Grande Círculo.
Muito disso vem, novamente, da excelente escolha de jogar em primeira pessoa, mas só essa opção de câmera não bastaria para gerar tamanho efeito. Não, o que torna o jogo tão imersivo é o fato de que claramente ele foi feito por pessoas que entendem o que uma legítima aventura do herói deve ter, como o personagem se comporta, qual o tom do seu humor, enfim, toda a construção de mundo e de vibes. E eles tiraram de letra esse desafio.
Antes de jogar, apenas acompanhando os trailers de divulgação e vídeos de bastidores — e até mesmo levando em conta o pedigree da MachineGames —, eu imaginava que teríamos um jogo bem mais focado em ação e combate, mas felizmente eu estava errado.
A aventura aqui é bem cadenciada, tem levíssimos elementos de immersive sim, um bocado de puzzles e exploração. A despeito da distância de décadas e da colossal disparidade de poder de hardware, Indiana Jones e o Grande Círculo, na minha visão, se aproxima bem mais do clima e emoções de Fate of Atlantis do que de qualquer outro jogo do herói.
Soluções ao melhor estilo Indiana Jones
Eu não sei e nem preciso saber se isso foi ou não uma escolha intencional por parte dos desenvolvedores, mas achei profundamente interessante que até mesmo o ponto mais fraco do jogo acaba tendo o clima correto. Não digo isso para passar pano para o combate, só achei extremamente simbólico mesmo.
Veja bem, o sistema de lutas de Indiana Jones e o Grande Círculo não é lá muito bom. Desferir socos e tentar se defender dos inimigos é algo bem desajeitado e tosco. Quase ninguém usa armas de fogo, então as partes com mais ação normalmente consistem em trocação franca de sopapos.
Se você já assistiu a qualquer filme da série, deve saber que o Indy nunca foi exatamente um lutador primoroso. Sim, ele já deu uma boa cota de socões em nazistas, comunistas e fascistas, mas volta e meia ele pena para vencer, apanha, ou até mesmo perde as lutas e depende da sorte para se dar bem na hora H.
Novamente, eu não defendo e vou até tirar alguns pontos do jogo por causa de seu combate melee atabalhoado, mas até isso acabou encaixando maravilhosamente com a premissa e tom do jogo. Afinal, isso me forçava a buscar soluções alternativas o tempo todo de forma orgânica, sempre pensando “é isso que o Dr. Jones faria aqui”.
Entram em ação, então, os leves elementos de immersive sim. Há uma tonelada de objetos largados pelos cenários que você pode usar tanto para arremessar e distrair inimigos como para desferir golpes mais fortes. Quase todo mapa possui diversas rotas alternativas para você chegar aonde quer, e há muita verticalidade habilmente espalhada pelos mapas.
Mesmo ciente de que eu tinha uma pistola em meu inventário, eu praticamente nunca senti vontade de usá-la. Sim, ela dá cabo dos soldados com um ou dois hits, mas chama atenção demais, além de não ser tão recompensador quanto usar o seu chicote para escalar o cenário mais próximo e dar a volta, contornando completamente uma luta evitável e se sentindo muito esperto por isso.
Algumas palavras sobre o desempenho técnico
Do começo ao fim, eu achei a jornada de Indiana Jones e o Grande Círculo um dos jogos mais bonitos da geração e um absoluto deleite tanto visual como sonoro, intercalando as clássicas composições de John Williams com novos temas aqui e ali feitos por Gordy Haab, tudo perfeitamente coerente.
Não tive quaisquer problemas de desempenho ou bugs dignos de nota, mas eu não sou um especialista técnico e nem gosto de focar análises nesse ângulo. No entanto, aqui na redação nós temos um especialista, o Vinícius Munhoz. E assim como o Indy volta e meia precisa da ajuda de seus companheiros nas aventuras, eu também me permito pedir uma mãozinha ao Vini, que escreveu o tópico seguinte. Confira o que o Vini achou a seguir:
Vinícius Munhoz disseca a performance técnica:
“A MachineGames deu um verdadeiro jumpscare nos fãs quando revelou os requisitos mínimos e recomendados de Indiana Jones e o Grande Círculo: CPU bem acima do comum e, como GPU, no mínimo uma GeForce RTX 2060 para jogar com tudo no Baixo. Quer jogar no Recomendado? Era bom ter ao menos uma RTX 3080 Ti.
Apesar de dar um susto e tirar os jogadores da cadeira, o que vemos na prática é algo muito mais tranquilo e até mesmo placas de vídeo mais modestas darão conta de rodar Indiana Jones sem grandes problemas e acima dos 60 fps com folga.
O motivo pelo qual os requisitos mínimos incluem GPUs da linha RTX ou equivalente é porque, por padrão, Indiana Jones usa ray tracing em iluminação global de forma obrigatória, mesmo que o recurso esteja selecionado no Baixo no menu – inclusive, o Baixo de PC ainda é bem superior ao preset do Xbox, que utiliza uma configuração especial para consoles abaixo do nível de entrada nos PCs.
Entretanto, esse bicho de sete cabeças para muitos passa longe de ser um problema e traz um nível de qualidade de luz e sombras bem acima do que estamos acostumados, com a iluminação calculada em tempo real criando uma verdadeira atmosfera de respeito em cada tumba, templo ou masmorra esquecida.
O Thomas, que compartilha sua experiência nesse review, tem uma RTX 3060 e conseguiu rodar tudo no Alto, incluindo iluminação global, em 1080p e acima de 60 fps (enquanto gravava o gameplay, inclusive). Então por que as recomendações foram tão altas?
Basicamente, por dois motivos: VRAM e Path Tracing. As recomendações da MachineGames de Indiana Jones usam mais como parâmetro a quantidade de VRAM e não o poder de fogo das placas. Se você tem 8 GB de memória de vídeo, é bom não abusar e passar do preset Médio na parte de texturas e, talvez, cabelos.
Você pode experimentar com o preset Alto de texturas em 1080p, mas nunca acima disso em 1440p e 4K – ou verá uma performance terrível. O Digital Foundry fez uma tabela que dá uma boa noção do que você deve usar dependendo da sua placa e é bem fácil de seguir.
A outra parte das recomendações ficam com o Path Tracing (ou Full Ray Tracing, como dito pelos devs). Nesse quesito, Indiana Jones realmente é pesado e eleva ainda mais a qualidade visual. Jogando em uma GeForce RTX 4090, com tudo no Ultra, Path Tracing e DLSS em Qualidade, as médias foram para 70 fps em 1440p.
Contudo, a NVIDIA traz um recurso bom para usuários de placas da linha RTX 40 e que querem experimentar ray tracing mais avançado: o DLSS 3, que gera frames e melhora bastante a performance – mas recomendados o uso apenas se você estiver próximo dos 60 fps sem a tecnologia ativada. Por aqui, as médias foram de 120 a 150 fps.
E, sem dúvidas, Indiana Jones se beneficia bastante do Path Tracing. Um dos problemas técnicos que mais incomodaram durante a jogatina foi a tecnologia de sombras, que tem um shadow cascade, uma espécie de “pop-in de sombras”, muito próximo da câmera, algo que não foi bem otimizado na rasterização comum.
Há alguns presets para fuçar, mas recomendaria tentar ligar ao menos as sombras do sol para corrigir esse defeito. Mas certamente vale brincar e ver como atingir as melhores métricas com os diferentes tipos de ray tracing: e, como o nome diz, path tracing indica que todos os elementos podem ser calculados com traçados de raios, incluindo oclusão de ambiente, reflexos (que tem resolução máxima, diferente da Unreal Engine 5 e outros motores gráficos) e mais.
Como dica adicional, caso esteja incomodado com o pop-in de elementos na tela, jogos da Bethesda costumam ser bem personalizáveis e você pode corrigir isso: abra o menu de comandos (tecla aspas no teclado, ao lado do botão “1”) e digite R_LODSCALE 5.
No geral, Indiana Jones é um daqueles jogos que são um sonho para jogadores de PC: bem-otimizado, com tecnologias avançadas e muitos recursos para mexer – e até placas mais modestas devem rodar o jogo no Alto. Há alguns bugs aqui e ali, certas opções poderiam estar no menu (em vez de usar o console de comandos) e nem tudo é bem-otimizado para a rasterização comum, mas ainda temos uma experiência fantástica e facilmente acima dos consoles.”
Vale a pena jogar Indiana Jones e o Grande Círculo?
2024 foi um ano excelente para os videogames, e a cereja do bolo é poder fechar dezembro com esse jogão que é Indiana Jones e o Grande Círculo. Eu simplesmente adorei como o mundo é estruturado em grandes áreas temáticas (como o Vaticano e Gizé), e cada uma delas possui uma ampla variedade de missões e segredos para você explorar no seu próprio ritmo.
Era muito fácil para a MachineGames seguir o caminho mais simples e se inspirar nos blockbusters em estilo jogo-filme, com ação genérica em terceira pessoa e câmera sobre o ombro. Ironicamente, ao se distanciar disso, eles conseguiram chegar muito mais perto da sensação de um filme do Indy.
Inspirando-se na linguagem do cinema, mas tirando proveito das possibilidades que apenas os videogames permitem, Indiana Jones e o Grande Círculo é um dos melhores jogos do ano, e o melhor jogo do Xbox nesta geração até agora.
Seja você fã do personagem ou não, faça um favor a si mesmo e jogue agora mesmo Indiana Jones e o Grande Círculo.
Indiana Jones e o Grande Círculo
Publisher: Bethesda
Desenvolvedora: Machine Games
Plataformas: PC, Xbox Series X/S
Lançamento: 09/12/2024
Tempo de review: 15 horas
Indiana Jones e o Grande Círculo figura facilmente entre os melhores jogos de videogame do personagem, além de ser um dos grandes lançamentos de 2024. Um blockbuster de primeira!
Prós
- Pega bem a vibe do universo de Lucas e Spielberg
- Cenários vastos com exploração gratificante
- Faz excelente uso da iluminação e sombras
- Elementos de immersive sim bem inseridos
- É um blockbuster de primeira!
Contras
- Combate físico meio desengonçado e sem profundidade
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