Review: Mortal Kombat 1 dá cara nova aos acertos e erros de sempre
Familiar, nostálgico, problemático e gostosinho, Mortal Kombat 1 tem um pouco de tudo para fãs e haters
uanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas. A sabedoria desse provérbio francês acaba se aplicando bastante a Mortal Kombat 1 tanto no contexto de seu lançamento como na própria premissa que norteia a narrativa ingame.
Como você já deve ter visto (e fique tranquilo, não entraremos em spoilers neste texto!), o 1 do título diz respeito a um “reinício” para os personagens que acompanhamos ao longo de diversas gerações, agora vivendo em uma linha do tempo renovada.
Liu Kang, Kitana, Johnny Cage, Scorpion, Sub-Zero e companhia podem até estar com cara e motivações novas, mas toda a estrutura que os cerca é extremamente familiar para os fãs de longa data, garantindo sempre o devido respeito aos jogos do passado.
No nosso mundo real, a história também tende a se repetir: quis o destino que novamente as principais franquias de luta do mercado lançassem novos jogos relativamente próximos entre si para inflamar com tudo o interesse da galera!
Assim como Street Fighter IV reacendeu a chama da FGC que parecia fadada a se extinguir, pouco depois levando ao lançamento de Mortal Kombat 9, um dos melhores capítulos de toda a franquia, mais uma vez os principais astros do meio estão em movimento.
Estamos em uma nova era de ouro para os jogos de luta!”
2023 já largou com tudo com a chegada do impecável Street Fighter 6, agora a NetherRealm brinda os seus fãs com mais um Mortal Kombat bem azeitadinho, e logo mais ainda teremos Tekken 8, Project L… que época para estar vivo e ser fã de jogos de luta, hein?!
A dicotomia de Mortal Kombat 1
Já que estamos falando no cenário dos jogos de luta, acredito que uma boa análise de Mortal Kombat inspira alguns cuidados, especialmente porque há dois perfis bem diferentes de jogadores que consomem a obra.
Da mesma forma que os campeões do plano terreno e da exoterra possuem visões e interesses diferentes, o público de Mortal Kombat se divide entre a galera mais casual que se amarra na rica narrativa, e os entusiastas mais hardcore de jogos de luta.
Curiosamente, eu não acho que Mortal Kombat 1 seja uma obra capaz de alterar drasticamente o ponto de vista de qualquer um dos dois lados, seja para o bem ou para o mal.
Quem gosta das tradicionais histórias cinematográficas que a NetherRealm Studios faz com tanto capricho em Injustice e nos últimos jogos de Mortal Kombat encontrará exatamente o que espera por aqui, com muito fanservice, lore rico, referências e diversão.
Já a turma da FGC que gosta de lembrar que Mortal Kombat 11 foi o jogo com menos inscritos da EVO 2023, perdendo até para Melty Blood Type Lumina, avessa ao botão de bloqueio, fila de imputs e animações mais travadas, seguirá antipática à visão do Ed Boon e companhia.
Mais empolgante que os filmes do Johnny Cage!
Mas vamos começar falando das coisas que a maioria deve concordar que ficaram muito boas: como citado, a NetherRealm encontrou ouro na fórmula das suas campanhas, então não é surpresa que o grosso da estrutura tenha sido mantido, e ainda bem que foi!
O prato principal de Mortal Kombat 1 é uma história parruda e redondinha com cerca de cinco horas de duração. Por uns bons 80% desse tempo você pode preparar uma pipoquinha e curtir uma legítima sessão da tarde, o que eu digo no tom mais elogioso possível!
Quanto mais fã de Mortal Kombat você for, mais vai gostar da deliciosa farofada da história!”
Os diálogos estão bem inspirados, os encontros entre personagens empolgam, e há até algumas viradas bem espertas e surpreendentes na narrativa. Aliás, vale a pena estar em dia com o lore ou dar uma estudada para apreciar tudo ainda mais. Fica aqui uma boa dica de vídeo:
No mínimo, tente jogar Mortal Kombat 11 antes desse aqui, pois ainda que a sua trama seja relativamente auto-suficiente, vai ficar mais fácil de compreender alguns pontos-chave da trama e sacar melhor a carga dramática dos eventos.
O fato é que quanto mais você for fã da série, mais vai gostar da farofada (de novo, dito no sentido mais elogioso possível!) que se desenrola especialmente na segunda metade da narrativa. Aliás, curti que é possível selecionar os atos e capítulos dela com um clique!
A violência nunca foi tão bonita
Outro ponto certamente digno de elogios e que eu espero que seja unanimidade é o capricho na elaboração principalmente dos cenários. Desde que os jogos de luta migraram para o visual mais 3D, não me lembro de ficar tão deslumbrado com as paisagens de fundo!
A iluminação de Mortal Kombat 1 está um verdadeiro show, e o contraste entre as cores é perfeito: o ambiente nunca te distrai dos combates (o que mais importa), mas ao mesmo tempo você é recompensado com cenas de tirar o fôlego caso pare para admirar a paisagem.
Deveria ter até um modo foto no meio das lutas, porque daria para preparar cliques animais! Infelizmente, o único modo foto presente é restrito ao menu de customização dos personagens, onde é possível rotacionar os seus modelos com um pouco de zoom e nada mais.
Praticamente todos os lutadores do farto elenco (veja aqui a lista completa se não ligar para spoilers) estão com modelos muito bem esculpidos e, como esperado dos produtos da Warner Bros. no Brasil, contam com um time de dublagem talentoso e carismático.
A trilha sonora também soube misturar muito bem melodias mais conhecidas com algumas composições em estilo mais moderno. No geral, me senti positivamente surpreso com o quanto gostei dos temas e mal posso esperar pelo dia em que eles entrarão no Spotify!
O novo modo de Mortal Kombat 1 merecia mais
Se a campanha, apresentação e elenco são os elos mais fortes de Mortal Kombat 1, o seu novo modo de jogo, Invasões, infelizmente representa um de seus componentes mais fracos e decepcionantes, parecendo até um resquício de jogo mobile da década passada.
Nesta espécie de substituto/modernização da Krypta, controlamos um personagem em visão superior por um tabuleiro repleto de casinhas. Quase todas possuem lutas simples, mas outras viram minigames de Test Your Might, baús ou pequenas torres.
Diz muito que até os tabuleiros de Mario Party 64 sejam mais variados, divertidos e ágeis de navegar do que esse aqui, onde o seu avatar se move de forma irritantemente lenta entre os espaços. Curiosamente, nem dublado esse modo foi, de tanto descaso!
Há um monte de ideias jogadas nele, mas nenhuma parece importar muito. Lutar faz o seu avatar subir de nível e ganhar atributos que você pode definir manual ou automaticamente, há itens para equipar e garantir mais boosts, moedas correntes próprias para comprar itens…
Mas… nada clica. Há até uma relativamente complexa tabela de elementos com fraquezas e forças de cada tipo entre si, mais ou menos na linha de Pokémon, mas eu estaria mentindo se dissesse que levá-la em conta fez qualquer diferença digna de nota nas lutas.
O pior é que, a não ser que você não ligue para ativar mais roupas, fatalities e extras em geral, essa é a sua única forma de liberar novos recursos sem precisar gastar dinheiro. Minha dica, então, é jogar ao menos um pouco todo dia bem no esquema de grind mesmo.
Pequenos e grandes problemas
Comicamente, o pessoal da NetherRealm pareceu meio incapaz de compreender até algumas mecânicas simples de Gashapon: no menu principal, há uma janela própria para o sorteio de destrancáveis em troca de mil moedas.
Ao invés de luzes brilhantes e sons gratificantes e rápidos o colocando em frenesi, o processo de investimento é longo e cansativo. Eu cronometrei: entre apertar o botão de confirmação e o sorteio de seu item são quase 9 segundos vendo uma enfadonha animação genérica.
Ou seja, se você quiser liberar seis artes, itens ou o que for, vai precisar ficar olhando para a mesma tela por quase um minuto. É um detalhe bobo e pequeno, mas que evidencia a falta de pensamento mais apurado na monetização das coisas.
Falando em falta de capricho, ou a versão pré-patch day one veio terrivelmente desfalcada, ou o pessoal simplesmente esqueceu de dar uma trabalhada nos Trials e desafios de combos dessa vez. É até difícil chutar o que pode ou não ter acontecido.
O modo de desafios parece ter sido lançado ainda incompleto, em rascunho… bizarro!”
O modo, tão básico e essencial nos jogos de luta, está escondido dentro da aba de tutoriais e chega a assustar: boa parte dos lutadores possuem apenas seis desafios de combo, o que já seria ruim por si só, mas calma que ainda fica pior!
Se você joga com um dos sete personagens “sorteados” com esse azar, boa sorte pesquisando e testando os seus movimentos, porque sete membros do elenco possuem apenas um único desafio de teste de combo! Parece até que o modo foi lançado em rascunho ou sei lá!
Mortal Kombat 1 está tão incompleto que há casos em que, ao clicar e pedir para que a CPU demonstre como se faz um determinado combo, a própria máquina repetidamente falhe na sua execução, como em um dos exercícios do Liu Kang. Risível e patético, para dizer o mínimo.
Com Street Fighter 6 dando um verdadeiro show de didática e apresentação de mecânicas, com informações modernas, detalhadas e intuitivas, Mortal Kombat 1, mais do que parado no tempo, parece até ter regredido nesse sentido, o que é uma pena.
Especialmente porque as animações, sempre mais travadas e estranhas que as dos rivais, estão um pouco melhores dessa vez, e até o gameplay no geral está mais redondo, polido e azeitadinho do que o de Mortal Kombat 11.
Só não espere muito dos lutadores Kameo: fora te tirar da pressão e linkar ou um outro golpe a mais, eles me pareceram um pouco desequilibrados entre si, e imagino que logo menos veremos a mesma seleção de três ou quatro kameos em todas as lutas da comunidade.
Felizmente, em outro campo o jogo se sai muito bem e, tal qual o seu maior concorrente, também oferece ótimas opções de acessibilidade para jogadores com diferentes limitações. Aqui, sim, a NetherRealm Studios merece reconhecimento pelo esforço.
O tema não é minha maior expertise, mas não dá para não elogiar o esforço para garantir que o máximo de pessoas possam se divertir plenamente! Tomara que, cada vez mais, iniciativas do gênero se tornem regra. Todo mundo sai ganhando com medidas assim.
E aí, Mortal Kombat 1 vale ou não a pena?
Fechamos a nossa jornada mais ou menos no mesmo ponto onde começamos: Mortal Kombat 1 é um produto complicado porque, dependendo de com quem você conversar, o jogo pode ser maravilhoso ou decepcionante.
O seu lançamento não terá suporte a crossplay, mas nos meus testes online com um amigo, as partidas rodaram lisinhas com rollback adequado; O elenco é maravilhoso e seu visual é incrível, mas habilitar mais roupas e acessórios é um grind longo e chato.
A história cativa e empolga, mas alguns dos elementos mais básicos esperados pela FGC deixam a desejar; enfim, parece que para cada passo para frente, também é dado um passo para trás, garantindo que a franquia permaneça sempre presa no mesmo lugar.
Para os fãs, pode ser ótimo ver que ela está exatamente onde sempre esteve. Para os haters, certamente é uma decepção. Para os curiosos e lutadores de primeira viagem, Mortal Kombat 1 é muito bonito e divertido… desde que você saiba para onde olhar.
Mortal Kombat 1
Publisher: Warner Bros. Games
Desenvolvedora: NetherRealm Studios
Plataformas: PC, PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox Series X/S
Lançamento: 19/09/2023
Tempo de review: 35 horas (contando a beta)
Mortal Kombat 1 sabe dar aos seus fãs o que eles querem, mas velhos problemas devem seguir impedindo a série de alçar voos mais altos
Prós
- Linda apresentação visual
- Campanha com muita ação, humor e referências
- Bastante konteúdo para desbloquear
- Trilha sonora e dublagem empolgantes
- Boas ferramentas de acessibilidade
- O elenco parece balanceado e divertido
Contras
- Modo Trials parece... incompleto?!
- Novo modo Invasões é bem chatinho
- Grinding lento para liberar conteúdo
- Falta de crossplay no lançamento
Comentários
Quem comprou a versao premium, como faz pra liberar os personagens do Kombat pack?
ainda n estão disponíveis, quando lançar eles vão aparecer no na tela de seleção, eu imagino q vão aparecer no bloco q tem um “+”