Armored Core 6
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Review: Armored Core 6 é a síntese de como deve ser um jogo de ação

Com Armored Core 6: Fires of Rubicon, a FromSoftware quer apresentar uma franquia espetacular a quem não conhece

23.08.2023 às 15:13

Imagem: Bandai Namco/From Software

Em meio a Dark Souls, Bloodborne, Sekiro e Elden Ring, Armored Core 6: Fires of Rubicon não tem a mesma popularidade, mas, ironicamente ou não, carrega o fenômeno de ser a franquia mais longeva do estúdio japonês.

Afinal de contas, a série remonta a 1997, quando um estreante PS1 estabelecia sua base no mercado – e extraía o melhor que podia em suas desventuras ocidentais, já que nasceu no Japão e, naturalmente, abriu portas a inúmero estúdios orientais, incluindo a FromSoftware.

Armored Core 6 e a coragem da From na última década

A franquia de mechas cruzou gerações e bateu ponto em consoles como PS1, PS2, PS3, Xbox 360, PC e, agora, PS4, PS5, Xbox Series X|S e Xbox One. Embora tenha boa rodagem de estrada, Armored Core é o tipo de experiência que agrada a um grupo mais restrito de consumidores, um nicho com franca ligação à estética e ao estilo dos mechas, que no Japão integram uma parte mais cultural da sociedade e dos costumes de entretenimento.

Com presença mais mundial, uma base de fãs cristalizada e retaguarda financeira para se arriscar numa série menos popular, a FromSoftware teve segurança suficiente para ousar e sair um pouco da rota soulslike de sua última década.

Armored Core 6 é bem diferente do que você viu nos títulos mais recentes dessa equipe e, ao mesmo tempo, absolutamente familiar aos veteranos de plantão, com todos os pilares respeitados e seguidos à risca: estrutura de missões separadas (sem mundo aberto), instrução antes de cada objetivo, mechas com várias armas que precisam ser administradas em comandos diferentes e uma história que envolve o código de conduta de um mercenário independente – sim, eles possuem coração e têm uma ombridade a ser obedecida.

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Imagem: Bandai Namco/FromSoftware

História contadinha

Souls, Bloodborne e Elden Ring apresentam parte de sua lore em descrições de itens e subtexto de NPCs. Esse modo místico e enigmático de contar histórias se tornou uma assinatura inconfundível da FromSoftware. Em outra toada, o enredo de Armored Core 6 é apresentado à moda tradicional, com briefings que precedem cada missão e esclarecem tudo que está acontecendo, bem ao estilo PS2-PS3-Xbox 360.

É preciso colocar na balança que a franquia está há 10 anos adormecida. Pensando num público ingressante, há um “soft reboot” aqui, isto é, ao mesmo tempo em que o jogo continua elementos mostrados anteriormente, também serve como porta de entrada a marinheiros de primeira viagem, funcionando sozinho.

Nesse sentido, há uma bem-vinda mudança de ares. As tramas prévias se ambientaram principalmente na Terra e em Marte. Desta vez, a jornada leva você para fora do Sistema Solar, no remoto planeta Rubicon 3, em que uma nova substância misteriosa é encontrada e promete evoluir dramaticamente as capacidades tecnológicas da humanidade.

As fases em si podem parecer inofensivas à primeira vista, mas basta chegar ao primeiro chefão para você bater com a mão na testa e constatar o óbvio: ok, esse é um jogo da FromSoftware

Meio século após a descoberta, a matéria ressurge num contexto de disputa entre corporações e grupos de resistência. O jogador assume a pele de um mercenário independente que deve se infiltrar no planeta e descobrir seu destino em meio a esse impasse de facções.

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Imagem: Bandai Namco

Sem seletor de dificuldade e com checkpoints

Embora o jogo se afaste do ciclo vicioso que se tornou a fórmula Souls, não se engane: a dificuldade, que também se tornou marca registrada desse time, se faz presente em diversos embates memoráveis de Armored Core 6.

As fases em si podem parecer inofensivas à primeira vista, mas basta chegar ao primeiro chefão para você bater com a mão na testa e constatar o óbvio: “Ok, esse é um jogo da FromSoftware”. Sim, você precisa telegrafar os movimentos desses soldados de elite, estudar seus golpes e responder com uma estratégia de acordo.

Não há um seletor de dificuldade em Armored Core 6. A ideia é que todos adotem o mesmo senso de desafio que tanto se tornou proeminente nas obras do estúdio: todos apanham, todos aprendem, todos melhoram. Paciência, progresso, tentativa e erro, não necessariamente nessa ordem, mas sumariamente mandatório e de forma coletiva.

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Imagem: Bandai Namco

Não há “fogueiras” aqui também, e sim checkpoints registrados automaticamente conforme você avança em cada estágio. Os serviços que você realiza são curtos, aliás, e alguns podem ser concluídos em questão de poucos minutos. Cada capítulo é composto por um conjunto de missões, e todas formam arcos diferentes na história.

Líder da FromSoftware, Hidetaka Miyazaki cuidou dos diamantes da empresa (Bloodborne, Dark Souls 1 e 3, Sekiro, Elden Ring) e hoje é presidente da companhia, mas segue sendo uma potência criativa do time. Ele participou de toda a concepção de Armored Core 6 antes de passar o bastão a Masaru Yamamura, que foi designer líder de Sekiro e, sem dúvidas, permitiu que Armored Core 6 herdasse alguns de seus princípios.

Ação impecável

Sentir-se poderoso é uma das melhores sensações que os games promovem. Armored Core 6 traduz esse sentimento ao pé da letra: o seu mecha pode carregar bazucas, lançadores de granadas, metralhadoras, pistolas, lança-chamas, propulsores para voar e, é claro, habilidades corpo a corpo. A montagem do robô é mais fundamental do que o jogo dá a entender.

O fato é que todos os mecanismos de Armored Core 6, que à primeira vista podem confundir os desavisados pelo excesso de comandos, serão colocados à prova em tiroteios fantásticos, em que o jogador se depara com enxames de inimigos e deve mesclar rápida movimentação enquanto atira.

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Imagem: Bandai Namco

Na hora do mano a mano, a luta se torna individual e requer a escola “Souls” para encontrar as brechas necessárias e pensar em abordagens corporais, que infligem altíssimo dano ao custo de mais exposição.

O sistema de combate de Armored Core 6 é absurdamente bem construído: movimentação, planagem, disparos, esquivas, peso do seu robô, objetos do cenário e outros aspectos se costuram e funcionam incrivelmente bem na camada intuitiva do nosso cérebro. Você logo estará se sentindo um “megazord” como arma de destruição em massa para varrer tudo que se projeta à frente do seu mecha. Há batalhas fabulosas contra robôs veiculares colossais – capazes de extrapolar as extremidades da sua tela –, que oferecem impacto audiovisual cheio de glamour.

Não desanime: se você estiver sofrendo derrotas consecutivas muito cruéis contra alguns chefes, pode ser que a montagem do seu mecha não seja a ideal para aquela batalha. Lembre-se disso.

A exploração é um aspecto mais secundário de Armored Core 6 e talvez pudesse ter um pouco mais de protagonismo em relação às outras entradas da franquia. Alguns ambientes até ensaiam vastos terrenos a serem vasculhados, nem sempre com recompensas, mas com um ou outro arquivo que enriquece o enredo. Há faixas vermelhas que interditam a passagem do jogador com paredões invisíveis para delinear o perímetro da exploração.

O multiplayer é um belo incremento aos fãs de PvP, com direito a modo espectador. E sim, você pode refazer missões para melhorar seu ranqueamento ou angariar mais dinheiro, que é o modo pelo qual novas peças são adquiridas. Aliás, essa é a progressão do seu personagem: não em níveis, e sim por equipamento. Turbinar seu robozão não é mero capricho: é um elemento crucial para o progresso.

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Imagem: Bandai Namco/FromSoftware

A importância da customização

Conforme mencionado, a configuração do seu mecha é de suma importância para o sucesso nas batalhas contra chefes. Os robôs podem ser customizados nos mínimos detalhes, contemplando toda a carcaça externa (braços, pernas, tronco, cabeça) e as armas.

O porte pesado, médio ou leve de sua máquina influencia diretamente nas habilidades de combate e na movimentação. Você brincará com possibilidades que se encaixam melhor (ou pior) de acordo com cada objetivo de Armored Core 6.

Com o avanço da história, o modo Arena é desbloqueado, e nele você pode enfrentar adversários de elite que também servem como ótimo treinamento aos algozes presentes nas missões principais.

armored core 6

Imagem: Bandai Namco

Lembre-se disso: se você estiver sofrendo cruéis derrotas consecutivas contra alguns chefes, pode ser que a montagem do seu mecha não seja a ideal para aquela batalha. O seu mecha possui um farto arsenal, mas jamais abaixe a guarda e tampouco ignore as opções corporais.

Veredito

Armored Core 6: Fires of Rubicon pode facilmente ser visto como o “Magnum Opus” da franquia, o ápice de um produto de nicho que, nas mãos de uma empresa capaz de se arriscar, se torna apresentável a toda uma audiência nova.

Com Yamamura tocando essa banda e um sistema de combate impecável, a experiência foi criada com carinho, esmero e competência, assegurando um sólido terreno que, definitivamente, sobe a barra do gênero de ação em suas 30 a 40 horas de campanha.

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Imagem: FromSoftware

Ainda que alguns jogadores estranhem o jeitão “antiquado” e old-school da estrutura desse jogo, herdada de gerações passadas, o público certamente vai entender que, no final das contas, um jogo de ação sempre funciona sozinho quando todos os seus alicerces são erguidos de forma cristalina.

E Armored Core 6 é o melhor significado possível de “ação”.

Analisado no PS5.

O jogo foi gentilmente cedido pela Bandai Namco do Brasil para a realização desta análise.

Armored Core 6
9

Armored Core 6: Fires of Rubicon

Publisher: Bandai Namco

Desenvolvedora: FromSoftware

Plataformas: PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC

Lançamento: 25/08/2023

Tempo de review: 45 horas

Armored Core 6 é o melhor significado possível de “ação” e definitivamente sobe a barra desse gênero tão milenar

Prós

  • Ação sólida, competente e bem executada
  • Customização caprichada e importante no combate
  • Batalhas memoráveis contra chefes
  • História melhor do que você imagina
  • Amigável curva de aprendizado

Contras

  • Exploração poderia ter mais protagonismo e recompensa
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Johnathan
Johnathan
11 meses atrás

Como sempre, as reviews do Micali são muito bem escritas. Valeu por compartilhar sua visão do jogo conosco, mestre.
Minha cópia já está comprada, só aguardando liberar o download pra jogar essa maravilha.

Lucas Camargo
Lucas Camargo
11 meses atrás

Brunão escreve as matérias com muita classe

Luis Guiraldelli
Luis Guiraldelli
11 meses atrás

Salve, Mica e galera do Flow. Sabem se o upgrade da versão comprada em mídia física do PS4 tem upgrade gratuito pra versão de PS5?

Rafa
Rafa
11 meses atrás

Tem sim, basta por o disco no ps5 e fazer upgrade gratuito.

Machado
Machado
11 meses atrás

É um prazer ler as reviews do mestre Mica!