Review: Gundam Breaker 4 é gatilho para viciar em robôs gigantes
Gundam Breaker 4 carrega a magia de colecionar Gunplas e se apoia em ótimos sistemas de combate e personalização
nerente à cultura japonesa desde o final dos anos 1970, a franquia Mobile Suit Gundam pode não ter o mesmo apelo de um Pokémon ou Dragon Ball da vida, mas está ganhando cada vez mais prestígio no Ocidente. Dos animes aos filmes, da música à moda, robôs gigantes hoje têm lugar cativo no panteão da cultura pop, e Gundam Breaker 4 é um forte convite a esse mundo.
Nos games, contudo, a série Gundam teve bons representantes ao longo de sua história, mas nenhum que conseguisse capturar tão bem a experiência de montar Gunplas, fenômeno do plastimodelismo no Japão, que consiste em construir miniaturas de mechas a partir de peças plásticas.
Em resposta ao apagado New Gundam Breaker, o mais recente título da saga para consoles e PC, Gundam Breaker 4 chega com a missão de levar aos videogames o sentimento afetivo de colecionar e personalizar Gunplas, ampliando o escopo do que já vimos e oferecendo a liberdade ilimitada que os amantes dos robôs tanto desejavam. Confira o que achamos.
Gundam Breaker 4: foco na porradaria franca
Saudosista e apegado às convenções dos antigos jogos de ação, Gundam Breaker 4 é um hack’n’slash tradicional com grande ênfase em colecionismo e personalização de mechas. É o tipo de jogo projetado para satisfazer o desejo dos fãs de Gunpla: uma aventura leve cujo principal alicerce é o sistema de montagem.
No melhor estilo hack’n’slash de PlayStation 3, o combate fala por si só e é baseado em encaixar um golpe após o outro para manter a barra de combos no talo. Um elemento bem legal é que você é recompensado por “combar” não apenas com notas ao final dos embates, mas também com loot melhor. Quanto maior a sua sequência de ataques, mais valiosos serão os espólios obtidos ao depenar os oponentes.
O combate segue o esquema dos títulos anteriores, propondo uma dinâmica de hack’n’slash ainda mais frenética e satisfatória, mas traz algumas lições aprendidas com Armored Core VI: Fires of Rubicon: você pode equipar duas armas de fogo ao mesmo tempo, como metralhadoras, bazucas e rifles de precisão, além de uma arma corpo a corpo em cada mão.
As armas têm a capacidade de mudar a configuração do seu robô “da água para o vinho”. A espada, por exemplo, que só pode ser usada com as duas mãos, imprime um ritmo bem particular na movimentação e na forma como executamos ataques leves e carregados. Fazendo uma analogia, é como se cada arma fosse um instrumento musical diferente, cada qual com sua própria metodologia.
Autoexplicativo como jogos do gênero devem ser, o ciclo de gameplay se apresenta de forma orgânica e flui quase sem tutoriais: você aceita tarefas a partir de uma área central, enfrenta ondas de mechas de diversos arcos de Gundam e coleta loot para fortalecer o seu personagem com componentes de nível superior. O loop pode se tornar repetitivo depois de um tempo? Sim. Mas é extremamente prazeroso comandar a lata ambulante.
Gundam Breaker 4 é um jogo sobre a magia de montar mechas estilosos e colocá-los para brigar
Democratizando Gunplas
Apesar do número quatro carimbado em seu nome, Gundam Breaker 4 pode funcionar bem como uma primeira experiência de quem nunca se relacionou com a saga ou com games de mecha em geral. Numa pegada meio isekai, você assume o papel de um usuário de GB4, novo MMO que coloca Gunplas para brigarem por fama e status – afinal, é apenas um jogo online despretensioso.
A história só aparece no intervalo entre as missões e serve como pretexto – pouco credível, vale destacar – para embarcar em novas tretas de mechas. Por ser um consumidor assíduo de games japoneses, posso afirmar que personagens de jogos de anime tendem a ser verborrágicos em suas falas, mas esse não é o caso aqui. Os textos, aliás, foram adaptados ao português do Brasil, dando continuidade ao ótimo trabalho de localização que a Bandai Namco vem realizando em seus produtos.
Mais que um anime de ficção científica, Gundam sempre estimulou reflexões em suas tramas políticas. Gundam Breaker 4, porém, deixa de lado as complexidades e discussões pelas quais a franquia ficou conhecida e dedica seus recursos ao gameplay, sobretudo à personalização. Não há espaço para “mimimi”: o foco é total no controle e na montagem dos mechas.
Progressão e “fashion” Gundam: personalização sem limites
Dá para mexer em todo o arsenal do robô, do capacete à carcaça inferior, e cada novo item equipado muda radicalmente a forma como ele se comporta em batalha. Isso, inclusive, interfere em seu peso, nos atributos de agilidade e até nos detalhes mais simples, como no consumo de energia ao planar. As alterações não são puramente cosméticas.
Parece exagero, mas não é: o número de combinações permitidas na construção do Gunpla é obsceno. De fato, há uma quantidade infinita de builds possíveis, confeccionadas com as peças dos mais de 250 kits de robôs únicos que o game oferece em seu lançamento. Esses kits abrangem o catálogo inteiro das produções da série, sem contar os diferentes modelos de armas e acessórios.
Todos os mecanismos de Gundam Breaker 4 foram elaborados para nos levar sempre ao mesmo lugar: ao sistema de personalização (e progressão) de personagem. A montagem do mecha é um elemento fundamental e, por isso, se mantém em evidência nos menus. O sistema é propositalmente “quebrado”, isto é, projetado para que o jogador evolua suas peças ao limite e, assim, seja capaz de obliterar seus oponentes com poucas ações. É claro que há um desafio considerável nas missões de nível alto, mas o propósito de Gundam Breaker 4 é fazer com que você se sinta poderoso e se divirta por ter superado o poder de seus adversários.
De modo geral, as atividades duram de 10 a 15 minutos, um tempo que é reduzido pela metade se o seu Gunpla estiver devidamente preparado com itens que atendam aos requisitos da fase. É tudo uma questão de estar no nível certo para cumprir o objetivo. Tanto a campanha como as atividades secundárias podem ser aproveitadas junto de outros dois pilotos de Mobile Suit, no embalo do caráter cooperativo da jornada. Prepare-se para encontrar alguns dos jogadores asiáticos mais viciados que você já viu num multiplayer. É sério: o jogo mal foi lançado e eles já têm builds ridiculamente insanas.
Numa época em que games demandam cada vez mais tempo, Gundam Breaker 4 atinge o “ponto doce” da diversão: não entrega sessões de jogatina curtas demais nem exagera na duração, evitando assim o risco de se tornar desinteressante.
Transborda conteúdo, mas ressalvas existem
Quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, mas Gundam Breaker 4 faz jus ao que foi prometido, sendo a experiência “definitiva” para fãs de Gundam e simpatizantes de jogos de ação descomplicados. Como mencionado acima, você pode embarcar em missões com outros jogadores no cooperativo, formar clãs e participar de um modo PvP para colocar à prova as composições do seu mecha.
Não só isso: você caça robôs de outros usuários como um complemento à campanha single-player, de modo a angariar dinheiro e recursos, que podem ser gastos em novos kits de Gundam. Estou falando de uma experiência que pode tranquilamente durar centenas, talvez até milhares de horas para quem quiser se render ao multiplayer e espremer todo o conteúdo.
Para quem gosta de construir, ainda há um modo Diorama no qual é possível erigir maquetes de Gunpla, recriando cenas icônicas das sagas para compartilhá-las online. A natureza tranquila do modo é uma ótima opção a quem pretende desenvolver a criatividade e a capacidade inventiva na montagem dos kits de plástico, servindo também como um respiro da porradaria robótica.
Quanto às ressalvas de Gundam Breaker 4, os cenários se repetem com uma frequência indesejada e decepcionam pelo design simplório, seja na parte estrutural, seja visualmente. As fases desempenham o papel de pequenos ringues de batalha, promovendo poucos objetos destrutíveis com os quais podemos interagir – o que tira um pouco do brilho de controlar o mecha numa cidade, por exemplo. Entendo que as fases representam um elemento secundário da jogatina, mas teria sido bacana um pouco mais de variedade para atenuar a sensação de repetição.
Veredito
A nova entrada da série Breaker carrega consigo a magia de colecionar Gunplas e se apoia em ótimos sistemas de combate e personalização, mesmo com limitações escancaradas. Se você tem interesse em robôs gigantes e prefere focar na ação em vez de valorizar uma narrativa intrigante (que, neste caso, não existe), Gundam Breaker 4 é definitivamente o produto a ser recomendado.
A graça da experiência está em percorrer os mais de 45 anos de história da lendária franquia japonesa por meio dos icônicos designs de seus personagens e, sobretudo, na liberdade de montar um Mobile Suit “artesanal” a partir de combinações praticamente infinitas.
Uma cópia de Gundam Breaker 4 foi gentilmente cedida pela Bandai Namco para a realização desta análise, feita no PS5.
Gundam Breaker 4
Publisher: Bandai Namco Entertainment
Desenvolvedora: Crafts & Meister Co.
Plataformas: PS5, PS4, Nintendo Switch e PC
Lançamento: 29/08/2024
Tempo de review: 30 horas
Gundam Breaker 4 traduz com maestria a experiência de montar Gunplas e é capaz de viciar qualquer um nesse universo
Prós
- O combate é o suprassumo dos jogos de mecha
- Traz a personalização mais profunda da franquia
- Não economiza em conteúdo single e multiplayer
- Traduz o sentimento de colecionar e montar Gunpla
Contras
- História completamente esquecível
- Limitações técnicas e estruturais nas fases
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