Stellar Blade mata saudade de um jogo de ação tradicional
Stellar Blade rapidamente coloca o jogador no epicentro da ação, mesmo com alguns solavancos no ritmo
ção clássica e sem rodeios que remonta às eras do PS2 e do PS3/Xbox 360. Saudades disso? Pois bem: Stellar Blade parece ser o tipo de jogo que senta com o jogador, se apoia no seu ombro e fala: “Tá tudo bem”.
Anunciado sob o codinome “Project Eve” em abril de 2019 pelo estúdio sul-coreano Shift Up, o projeto representa um enorme salto de maturidade a esse time por se tratar de um título de estreia em console. Até então, a equipe se dedicava a desenvolver jogos mobile, entre eles o bem-sucedido Destiny Child, febre no território asiático.
A produção, portanto, trouxe uma nova carga de responsabilidade aos artistas. Após um longo período no forno, a consolidação dessa ideia foi batizada de Stellar Blade, transferida do PS4 ao PS5 e com a promessa de resgatar um sentimento clássico esquecido há algum tempo: a ação pela ação, não pelo RPG ou pelo cansado rótulo de “soulslike”.
Muita areia para o caminhão dessa equipe ou um desafio à altura do que poderiam entregar? Confira em nosso review.
Stellar Blade é um tradicional jogo de ação
Andar, bater, escalar, bater de novo, explorar, andar, bater novamente. Ação é isso: rodear inimigos, saltar sobre eles, usar esquivas, defesa e habilidades especiais. Sem pensar muito, sem fazer malabarismos no controle – só no jogo, ali vale – e sem elaborar tanto seus movimentos: apenas agir instintivamente, com um senso mínimo de calma e estudo, sim, mas sempre focado na próxima sequência de socos e pontapés.
Assim é Stellar Blade, essencialmente falando, com alguns bem-vindos elementos adicionais no caminho, relatados mais adiante. O cartão de visita desse estúdio mostra sua competência logo de cara: o jogador é rapidamente inserido no epicentro da ação, testemunhando Eve e sua equipe contra uma raça alienígena que invadiu e dizimou o planeta Terra numa ambientação futurista.
Poucos tutoriais e nada de excesso de telas explicativas: você atira antes e pergunta depois, automaticamente sabendo que botões usar para executar os comandos – afinal de contas, estamos todos calejados de saber quais são, certo? Stellar Blade confia nesse instinto e deixa o resto a cargo do jogador, sem sobrepujar suas habilidades, mas também sem envolver grandes complexidades.
Nada que você não tenha feito antes: mirar nos inimigos e andar em círculos, golpear, recuar, esquivar, defender na hora certa para aplicar um contragolpe, usar habilidades especiais etc. Tudo feito na mais sólida base de gameplay, funcionando como deveria e onde deveria, com exímio (e surpreendente) conhecimento do estúdio, especialmente por se tratar de um jogo de estreia em console. Mas o ritmo não se mantém assim o tempo todo.
Ritmo cadenciado, elementos de soulslike e pouco de hack’n’slash
Stellar Blade tem uma velocidade de combate mais cadenciada do que muitos podem imaginar pelos gameplays apresentados em trailers ou até mesmo pela demo disponibilizada publicamente no PS5. A proposta fica longe de um Bayonetta ou Devil May Cry da vida, caso você estivesse materializando algo assim, e mais próxima de um Nier Automata ou Final Fantasy Origin: Stranger of Paradise.
Embora comece a 150 km/h, o ritmo cai para uns 80 km/h e passa por alguns solavancos até achatar a curva e retomar a ação, que se intercala entre momentos de exploração – maior do que parece, sim –, cinemáticas e diálogos.
Stellar Blade não é “inteiramente” soulslike e tampouco RPG, aproveitando-se muito mais do rótulo de “ação clássica” do que outras derivações do gênero
Esses momentos, aliás, interrompem o gameplay com mais frequência do que achei necessário, elucidando algumas decisões estranhas na construção de personagens – como, por exemplo, uma relação de confiança criada apressadamente entre a protagonista (Eve) e uma das sobreviventes que a combatente encontra em sua jornada. Do tipo: mal se conheceram e já são melhores amigas.
Cada vez mais onipresente nos jogos, o soulslike pode ser citado aqui também, especialmente pela apurada técnica de alguns chefes, que requerem paciência do jogador ao telegrafar seus movimentos, e a calejada “fogueira”, aqui na forma de pontos de descanso que se tornam locais de viagem rápida e central de upgrades – ao custo de ressuscitar inimigos, obviamente.
No entanto, vale ressaltar que Stellar Blade não é “inteiramente” soulslike e tampouco RPG, aproveitando-se muito mais do rótulo de “ação clássica” do que de outras derivações do gênero. A progressão de Eve, aliás, é separada em diversas árvores de habilidade que deixam o jogador com a agradável sensação de ostentar poder conforme avança.
Tecnicamente fluido – há bugs?
Em geral, Stellar Blade oferece uma fluida experiência durante praticamente toda a aventura, com alguns engasgos aqui ou ali em trechos mais movimentados, mas, em geral, a experiência é bem satisfatória nesse sentido. Há três modos gráficos à disposição: performance, resolução e equilíbrio, que faz um balanço entre os dois primeiros e sacrifica menos o visual e a taxa de quadros por segundo.
Em matéria de bugs, um ou outro empecilho foi testemunhado, nada comprometedor ou fatal a ponto de impedir o progresso. Porém, fomos acometidos pelo famoso “inimigo preso” em mais de uma ocasião, isto é, quando um monstro fica emaranhado em objetos do cenário sem conseguir escapar e, assim, facilita o combate ao jogador.
Os gráficos são bonitos e enchem os olhos com animações bem apresentadas, especialmente nos golpes finalizadores, exibidos em ângulos cinematográficos estrategicamente posicionados e brilhantemente executados.
Veredito
Aposta certeira da Sony, Stellar Blade é o resultado de um trabalho autoral e surpreendente para um título de estreia do estúdio sul-coreano Shift Up no campo dos consoles. A exploração “multidirecional” convida o jogador a se deliciar pelos confins dos cenários e raramente há ponto sem nó no level design; tudo faz sentido onde se encaixa.
A interface limpa e livre de complicações permite que você não perca tempo com isso e se concentre na ação, que sofre algumas “barrigadas” ao longo da aventura, com interrupções mais frequentes do que, sinceramente, achei necessário.
Os apressados podem levar 15 a 20 horas para concluir o jogo se pularem o conteúdo extra, enquanto os exploradores natos devem reservar facilmente suas 30 horas para cima, até porque a jornada reserva mais de um final. E sim, tudo isso 100% localizado ao português brasileiro, com textos e dublagem em nosso idioma!
As ressalvas supracitadas não são suficientes para tirar o brilho ímpar de Stellar Blade, que é um convite tentador e muito bem apresentado a quem quiser conhecer cada cantinho desse mundo.
Analisado no PS5. Uma cópia antecipada de Stellar Blade foi gentilmente fornecida pelo PlayStation Brasil para a realização desta análise.
Stellar Blade
Publisher: Sony
Desenvolvedora: Shift Up
Plataformas: PS5
Lançamento: 26/04/2024
Tempo de review: 35 horas
Stellar Blade é um convite tentador a um estilo clássico de ação por ação, não “RPG de ação” ou coisa do tipo. Esqueça isso e vá destroçar alienígenas
Prós
- Resgate a um estilo clássico de jogo de ação
- Ótimas animações e apresentação geral
- Progressão diversificada da personagem principal
- Interface bem desenhada e livre de complicações
Contras
- “Barrigadas” quebram o ritmo em alguns momentos
- Construção estranha de alguns personagens secundários
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