Review: A.I.L.A é um terror com repertório e realismo

A premissa é simples e provocativa: um novo sistema de inteligência artificial está sendo testado e visa explorar os limites da imersão por meio de experiências de realidade virtual que simulam diversos cenários, todos com histórias inerentes a um tema específico.

O protagonista da trama, Samuel, decide embarcar como testador dessa proposta. Sentiu o toque de Black Mirror? Pois bem, A.I.L.A vai muito além disso e carrega um vasto repertório em suas inspirações – além, é claro, de uma importante assinatura própria.

A.I.L.A: nível alto de cuidado com detalhes e realismo

Desenvolvido no Unreal Engine 5, o título usufrui de tecnologias que exploram capacidades técnicas fotorrealistas, o que traz um semblante profissional aos gráficos, extremamente polidos e convidativos ao exame minucioso.

O nível de detalhes impressiona: cada ambiente abriga inúmeros objetos, todos correspondentes ao que faz sentido para um determinado cenário. Salas contêm mesas, cadeiras, livros, prateleiras, porta-retratos, móveis com gavetas – muitas sujeitas à interação do jogador –, armários, estátuas, tapetes, pratos com alimentos, talheres etc.

Nota-se o grau de esmero ao lembrar e cuidar de cada informação presente em A.I.L.A não apenas para “preencher lacunas”, mas sim para trazer um senso de realismo ao jogador, tornando crível grande parte da experiência vivenciada.

Imagem: Pulsatrix

O terror se beneficia desse motor gráfico, uma vez que a riqueza de detalhes oferece, naturalmente, mais imersão – e aqui ela foi visivelmente definida como bússola do jogo.

Gameplay equilibrado entre enigmas, ação e exploração

Para testar as experiências prometidas no projeto A.I.L.A, o protagonista Samuel, que tem ampla familiaridade com tecnologia, deve vivenciá-las. Prepare-se para um generoso cardápio de temáticas, desde corredores labirínticos até arquiteturas medievais, todas amparadas no terror como norte da experiência.

A mudança de cenários é um tempero que carrega suas mudanças: armas, roupagem, gerenciamento de recursos e até resolução de enigmas mudam de paradigma conforme as fases avançam, nunca repetindo o que você já viu e sempre com a – hoje raríssima – capacidade de surpreender.

Trata-se de um terror com valor de produção, qualidade técnica estudada e, sobretudo, repertório

Imagem: Pulsatrix

Os quebra-cabeças são engenhosos, jamais levianos; desafiadores, nunca incompreensíveis. Fazem sentido para cada ambiente proposto e encontram a dose certa para não ocupar muito do seu tempo e, assim, impedir uma eventual quebra de ritmo do suspense. Exercitam seus neurônios suficientemente.

Algumas fases de A.I.L.A conferem dose extra de ação e, para isso, trazem um arsenal à altura, com armas corpo a corpo, pistola, espingarda e mais. Os recursos são escassos, mas houve um cuidado extra para não frustrar jogadores desavisados, que eventualmente encontram itens de cura e munição. No entanto, fica o aviso: há elementos de sobrevivência aqui sim, portanto, seja moderado no consumo de seu inventário.

Alto valor de produção e empenho em correções

A.I.L.A é um produto de altíssima qualidade. Terror com valor de produção, qualidade técnica estudada e, sobretudo, repertório. Aqui temos vestígios de Resident Evil, Sinais (sim, o clássico com Mel Gibson!), O Sexto Sentido, Alan Wake, P.T., Silent Hill, Black Mirror, Ex-Machina e mais um monte de outras obras sobre IA, além de O Iluminado e uma vastidão de livros de Stephen King que eu poderia citar.

Imagem: Pulsatrix

Algumas questões técnicas passíveis de correções foram detectadas durante minha jogatina, como inimigos colidindo com cenários, cadáveres se movimentando com animação atrasada ou corpos que se deslocam erraticamente pelo cenário. A Pulsatrix já afirmou estar trabalhando em correções para entregar um lançamento robusto e seguirá de olho na performance de A.I.L.A nas mãos dos jogadores.

Absolutamente nada que desabone a apreensão que eu senti na pele de Samuel conforme a tensão escalava no desenrolar da história, e isso é tudo que me limito a dizer para não entregar os pontos da narrativa – a qual, aliás, oferece vários finais diferentes de acordo com suas escolhas.

Veredito

Diante de tanta riqueza palpável e até easter eggs espalhados pelos cenários, não se engane: o valor autoral de AILA é o que prevalece sobre suas inspirações. Eu já nutria expectativas altas, é claro, em respeito ao projeto anterior do estúdio, FOBIA – St. Dinfna Hotel, e à equipe como um todo.

Se você busca uma autêntica e atmosférica experiência de terror, com equilíbrio entre enigmas, ação, exploração e gerenciamento de recursos, A.I.L.A pode facilmente surpreender com a variedade de biomas que aguardam o jogador nessas 15 a 20 horas de aventura.

Imagem: Pulsatrix

De lambuja, a história é capaz de te prender na cadeira tal qual aquele episódio imperdível de Black Mirror, em que você rói as unhas para saber o final e fica apreensivo até lá, imaginando o que vai acontecer – e como tudo vai transcorrer.

Que possamos falar sobre A.I.L.A e essa enciclopédia cultural que ele carrega a respeito do gênero de terror e suas nuances. Aliás, o preço está localizado no PS5, no Xbox Series X|S e no PC, plataformas em que o game está disponível por R$ 79,95.

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