Entrevista: ID@Xbox mira devs e jogos brasileiros em sua nova fase
Flow Games falou com executivo do ID@Xbox sobre foco em diversidade e estreitamento de laços no Brasil
m preparação para a nova apresentação do ID@Xbox Digital Showcase, que acontece nesta próxima terça-feira (11) e conta com a cobertura completa do Flow Games, nossa equipe bateu um papo com James Lewis, Líder Sênior do Programa de Parceiros Criativos do já bastante tradicional projeto de indies da Microsoft.
O papo aconteceu durante o BIG Festival 2023 e, embora não tenha rendido spoilers sobre essa próxima transmissão (poxa!), deu uma boa ideia de como o programa funciona dentro do Xbox e o que ele busca com sua expansão para o Brasil.
Um veterano do Xbox
No evento brasileiro – que rendeu até mesmo dados valiosos sobre as vendas dos consoles da marca –, a Microsoft fez questão de mostrar a força de seu catálogo de jogos com um estande 100% dedicado aos games. O espaço trouxe ao todo 20 estações de jogatina para o público, incluindo 10 títulos publicados ou viabilizados por meio do ID@Xbox.
Foi numa salinha mais reservada, no entanto, que conversamos com Lewis, um verdadeiro veterano da empresa. Com mais de 11 anos de casa, o executivo passou por diversas posições na companhia, mas tem orgulho especial de trabalhar há tempos não só com o ecossistema do Xbox, como também com o crescente segmento de desenvolvedores independentes.
“Comecei como publisher e produtor do XBLA [Xbox Live Arcade], cuidando inclusive de um de nossos projetos first-party da época, Project Spark”, conta Lewis ao Flow Games. “Depois acabei indo para o time do ID@Xbox como gerente de conta, responsável pelos títulos fechados na América do Norte”, complementa.
Segundo ele, essa experiência permitiu que ele pudesse conhecer uma série de desenvolvedores independentes com jogos incríveis. Ao longo dos anos, no entanto, ele acabou sendo recrutado para outros projetos, como o suporte à integração de algumas tecnologias do Mixer – antiga plataforma de streaming da Microsoft – em games e busca por conteúdo para publicação do Xbox, além de apoio aos estúdios internos da plataforma.
Felizmente, não demorou para que ele retornasse integralmente à cena indie. “Tive a oportunidade de fazer algo pelo qual sou muito apaixonado, que é voltar a trabalhar com desenvolvedores independentes, mas, desta vez, com foco em ajudar equipes sub-representadas. E tem sido um sonho realizado desde então”, afirma Lewis.
No ID@Xbox, o foco está nos jogos
Mas, afinal, qual é a ideia em trazer mais do ID@Xbox para um encontro aberto para o público como o BIG Festival? Divulgar mais a marca e o programa, como a Abragames fez este ano ao montar um estande na área do evento reservada aos consumidores? Não exatamente.
“Tudo bem se ficarmos em segundo plano, o ID@Xbox é apenas uma maneira de fazer com que os desenvolvedores independentes levem seus jogos aos gamers. Nosso papel é pensar ‘como podemos celebrar esses devs e games incríveis? Como podemos dar destaque a eles?’ e, então, fazer com que eles brilhem”, conta de forma empolgada o executivo.
Com essa mentalidade, o projeto já arrebatou cerca de 5 mil parceiros, promoveu o lançamento de mais de 3 mil jogos e conseguiu prover uma receita de aproximadamente US$ 4 bilhões em royalties para esses estúdios e desenvolvedores independentes.
“E temos visto cada vez mais conteúdo fantástico vindo da comunidade brasileira, muitos devs daqui levando seus títulos para nosso ecossistema”, explica Lewis. O interesse no Brasil, porém, também preenche outros quesitos e objetivos globais do programa.
Um Norte na diversidade
Diversidade. Essa é a palavra de ordem que marca uma nova etapa no crescimento da divisão de games da Microsoft. “Precisamos ser incisivos para ajudar times sub-representados a trazer seus jogos para a plataforma. Tipo, isso não acontece por acaso. Para vermos mais diversidade e alcançarmos mais jogadores, precisamos fornecer conteúdo relevante, capacitar mais desenvolvedores”, dispara Lewis.
“É aí que entra o ID@Xbox Developer Acceleration Program. Temos que ser criteriosos em criar oportunidades para times que ainda não tiveram acesso a recursos ou informações para saber como trazer seus jogos para a plataforma”, completa o executivo.
“Estamos muito focados em como estamos ajudando com seu port. Por exemplo, sabemos que o financiamento é limitado para novos times, então queremos que você gaste o dinheiro aprimorando o jogo, maturando sua estratégia de entrada no mercado ou o que quer que seja. Colocar o game na plataforma tem que ser algo que possamos ajudá-lo sem dores de cabeça”, analisa o americano.
Para Lewis e a equipe do ID@Xbox, também é preciso garantir que a parceria traga algum tipo de aprendizado aos devs. “Uma equipe nova sabe como funciona o processo de certificação? Conhecem as melhores práticas de marketing em nossa loja? Contamos com pessoas com mais de 20 anos na indústria. Eles podem compartilhar todos os meandros de publicação no Xbox”, explica.
“Por fim, trabalhamos com uma iniciativa de protótipos”, adiciona o entrevistado. “Tirar qualquer ideia nova do papel exige muito esforço e trabalho. E, para os desenvolvedores sub-representados, não há acesso fácil a recursos para lançar novas ideias. Então, estamos fazendo um piloto no qual financiamos protótipos como uma forma de os estúdios realmente criarem algo jogável que comunique com precisão sua visão [do projeto] e reduza riscos em sua capacidade de obter financiamentos futuros”.
No final das contas, acredita Lewis, é tudo uma questão de responder a várias perguntas. “Estamos alcançando novos desenvolvedores promissores que talvez não tenham 10 jogos já lançados? Sabe, aqueles que estão lançando seu primeiro jogo. Talvez eles costumavam trabalhar para um estúdio maior e agora estão sendo corajosos o suficiente para seguir por conta própria. Estamos criando espaço para esses estúdios?”, questiona.
“Se queremos fazer esse setor crescer, como podemos ter certeza de que estamos atendendo às vozes sub-representadas? Seja um estúdio liderado por mulheres, pessoas negras, pessoas de cor, membros da comunidade latina, membros da comunidade LGBTQIA+. E muito disso está refletido e representado aqui no Brasil”, conclui o executivo.
O Brasil no ID@Xbox
Aos olhos da Microsoft, o Brasil é um parceiro-chave nas comunidades emergentes de desenvolvimento, com sua cena independente enfrentando muitas das barreiras e diversos desafios que a empresa pode ajudar a sanar por meio das iniciativas do ID@Xbox.
“O foco do programa por aqui é deixar claro para os devs e estúdios locais que há mais coisas que podemos fazer juntos, sabe?”, pontua o executivo. Esse reforço da mensagem, por assim dizer, acontece porque, apesar de o acesso ao programa e seus recursos estar disponível ao desenvolvedor brasileiro desde o início dessa empreitada, há 10 anos, ainda existe quem não sinta esse ecossistema tão próximo daqui.
“Eu ouço muitas pessoas dizerem ‘ei, não nos sentimos tão conectados ao Xbox e o trabalho sendo feito lá’. Por isso, é tão importante estarmos aqui pessoalmente e nos encontrarmos com eles para tentar resolver um pouco disso, além de garantir que todos saibam como entrar em contato conosco quando não estivermos fisicamente na região”, diz Lewis.
O executivo diz que isso é essencial até mesmo para esclarecer dúvidas básicas sobre o ID@Xbox e passar a limpo alguns dos mitos sobre o projeto. “Não há nenhuma taxa de inscrição ou qualquer outra cobrança para ingressar com a gente. Nem mesmo meu programa, que oferece dev kits e financiamento para prototipagem, exige qualquer compensação financeira posterior”, esclarece.
“Também não exigimos exclusividade ou participação nos lucros ou no estúdio ou qualquer coisa parecida. É realmente apenas a nossa maneira de tentar apoiar desenvolvedores independentes para fomentar a indústria e ajudar as equipes como as que vemos aqui no Brasil”, explica o representante da Microsoft.
Não exigimos exclusividade ou participação nos lucros ou no estúdio ou qualquer coisa parecida.
“Estar em eventos como esse também é incrível para nós. Tivemos uma pessoa aqui no ano passado e encontramos muitas oportunidades maravilhosas, projetos com os quais conseguimos engatar uma parceria. Agora, queremos falar ainda mais sobre as nossas iniciativas e ouvir como podemos ajudar os desenvolvedores brasileiros. Participei de umas 20 e poucas reuniões esta semana, fiquei bastante empolgado”, conta.
E quais são as expectativas para o avanço do ID@Xbox no país? Essa resposta, Lewis parece ter na ponta da língua. “Acho que, no fundo, estamos tentando garantir que mais jogos cheguem aos consumidores. Há muitos desenvolvedores aqui no Brasil com jogos e oportunidades incríveis. Queremos garantir que eles conheçam o caminho para trazer esses títulos para o Xbox”, dispara.
“No caso do Developer Acceleration Program, nosso objetivo é entrar em contato com qualquer equipe que sinta que não está pronta ou que não tem a experiência necessária, mas que têm uma ideia ou conceito muito legais. Queremos ajudar esses estúdios a tirar seus games do papel”, analisa o executivo.
Não deixe para depois, crie seu game!
Para encerrar o papo com James Lewis, perguntamos que recado ele daria para quem tem o sonho de ter um game no ecossistema Xbox, mas, por um motivo ou outro, não deu início ao seu projeto ou acredita que ele ainda está aquém do esperado. As palavras dele não poderiam ser mais inspiradoras.
“Comece agora, se inscreva agora, se envolva agora. Não espere seu jogo ficar perfeito. Todos nós temos trabalho a fazer. Todos nós podemos melhorar nossos jogos. Basta começar agora”, insiste, comentando como essa é uma ação que não só traz benefícios para você, mas também para o restante da comunidade.
Comece agora, se inscreva agora, se envolva agora. Não espere seu jogo ficar perfeito.
“Sua jornada pode inspirar outros desenvolvedores, e acho que os devs brasileiros entendem isso. Claro, eles querem ter sucesso publicando seus games, mas também sacaram que estão inspirando outra geração de criadores, pessoas mais jovens que querem se ver representadas na mídia e que pensam ‘opa, talvez eu também possa contar a minha história’. Tenha ciência do seu papel na comunidade [indie]”, incentiva Lewis.
Embora criar um jogo seja uma tarefa hercúlea, fazer isso junto do Xbox é algo relativamente simples. O executivo ensina que, no caso do ID@Xbox, basta acessar este link, fazer seu registro, assinar um termo de confidencialidade e obter o GIF, um formulário de informações sobre o seu título. Se você for aceito, precisa lidar com mais alguns documentos e, então, recebe 2 dev kits para preparar terreno para a publicação na plataforma.
Conforme o projeto avança e alcança novas etapas, as conversas com o time da Microsoft envolvem outros tópicos, como a certificação do produto no ecossistema, estratégias de marketing e comunicação, identificação de possíveis janelas de lançamento e até mesmo a chance de aparecer em um dos showcases do Xbox.
Já para o Developer Acceleration Program, anunciado oficialmente no início deste ano, o contato inicial é feito por email e o papo vai avançando a partir daí. Seja qual for o ponto de entrada, no entanto, Lewis reforça a importância de tentar. “Mesmo se nossa resposta agora for um não, você ainda pode aprender com isso”, afirma.
“Também podemos entender o seu progresso caso você continue refinando o material e inscreva seu projeto novamente no futuro. Isso mostra que você é persistente e está disposto a trabalhar duro, e isso é bem importante. Talvez não tenhamos um espaço agora, mas daqui a 6 meses essa oportunidade pode aparecer e é ótimo saber que você e o seu jogo existem”, finaliza Lewis.
Talvez não tenhamos um espaço agora, mas daqui a 6 meses essa oportunidade pode aparecer e é ótimo saber que você e o seu jogo existem.
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