Review: Rise of the Ronin não é soulslike, é o comum bem-feito
Combate satisfatório e rico contexto histórico são pontos altos de Rise of the Ronin; confira nosso review completo
ão era preciso gastar tanta munição para convencer os fãs de Nioh e do saudoso Ninja Gaiden de que Rise of the Ronin seria uma grande composição artística do trabalho da Team Ninja.
Todo projeto inédito costuma ser “o maior” de qualquer equipe – ao menos do ponto de vista de marketing, sim – e aqui não é diferente: o novo título do estúdio japonês representa a culminação de tudo que esses artistas fizeram, especialmente após terem conseguido um lugar VIP na plateia do soulslike com o calibre de Nioh e Wo Long: Fallen Dynasty.
A assinatura desse talentoso time é inconfundível: combate técnico, sólida evolução de personagem, robusto contexto histórico e uma estética única para encapsular esses elementos. Tudo salteado por biomas que representam os maiores cartões-postais da cultura japonesa.
Rise of the Ronin inseriu um ousado ingrediente a essa mistura: o mundo aberto. Como esses pilares se encaixam nesse formato? E o tão famigerado soulslike: ele foi abolido em prol de uma experiência mais acessível, com direito a seletor de dificuldade? Sim. Vamos passar pelos altos e baixos que essas escolhas envolvem.
Rise of the Ronin: acessível e sem soulslike
Conforme já havíamos comunicado em nossa prévia, não, Rise of the Ronin não é um soulslike. Ele sutilmente adota, sim, alguns elementos dessa fórmula, como a necessidade de telegrafar golpes inimigos pacientemente ou lidar com o renascimento deles após alcançar os “estandartes” (bandeiras que, na prática, funcionam como fogueiras), entre outros detalhes herdados de Nioh.
Essa linha traça a divisão entre os projetos anteriores da Team Ninja e este: aqui, temos um produto absolutamente acessível a novatos, com seletor de dificuldade que contemplas as três opções básicas (fácil, médio e difícil) e um menu com várias alternativas que podem ser habilitadas para tornar a experiência ainda mais amigável – e sim, modificáveis a qualquer momento. Adicione ao pacote a localização total ao nosso idioma, com textos e dublagem em português, e você tem um produto apelativo no mercado.
Penando para matar um chefe? Coloque no fácil. Continua difícil? Defina o Ki como um recurso mais durável. Ainda complicado? Use seus aliados: nas missões principais, eles são personagens controláveis e oferecem uma ajuda inestimável durante as batalhas. Portanto, observe, Rise of the Ronin oferece uma sorte de ferramentas para auxiliar o jogador que não está a fim das típicas sessões masoquistas do soulslike.
Com algumas horas de jogo, você vai notar que Rise of the Ronin se afasta dessa ideia e deixa clara a mensagem de que se trata de um RPG de ação em mundo aberto. As primeiras nuances do combate chamam atenção pela técnica apurada e algumas soluções interessantes para quebrar a barra de resistência do inimigo, quando você deflete vários golpes em sequência ou bota pressão para cima de seu adversário.
O oponente entra num estado de “pânico”, ilustrado por uma aura vermelha, permitindo que você aplique um ataque devastador, apresentado numa bela animação. A situação também deixa o inimigo vulnerável a sucessivas investidas. Acrescente a isso esquivas, defesa, botão de salto e gancho e você tem uma boa dança.
Rico criador de personagem e “perfis” do protagonista
O criador de personagem é riquíssimo e certamente vai extrair um bom tempo dos detalhistas de plantão. Confesso que me deparei com uma grata surpresa aqui, digna de um RPG grandioso mesmo. Os minúsculos detalhes podem ser alterados: tamanho do nariz e das narinas, altura da testa, profundidade do queixo, distância entre os olhos, sobrancelhas, corpo, voz, cicatrizes, tatuagens…se bater a preguiça, vá às opções pré-determinadas e você tem modelos prontos de bandeja.
Os jogadores mais perceptivos vão notar que Rise of the Ronin oferece um botão de pulo, o que, tecnicamente falando, resulta em substancial evolução de mobilidade do personagem pelos cenários. O gancho é outra bugiganga a favor da exploração e de uma verticalidade maior nas travessias.
Outro aspecto que ajuda a categorizar Rise of the Ronin mais ainda dentro do selo de RPG é escolha da “afiação de espada”, que nada mais é do que uma espécie de “classe” ou perfil de seu personagem, podendo ser alguém mais focado na ação, nas mecânicas furtivas, nas armas de fogo ou no charme, que melhora a lábia do protagonista em situações de diálogo e negociação.
Grande contexto histórico e narrativa com escolhas
Eis aqui outra nova experimentação da Team Ninja: uma narrativa com escolhas. Diferentes opções podem, sim, desembocar em diferentes desdobramentos, incluindo o início ou o cancelamento de missões.
No papel de um Ronin, você deve forjar seu caminho e criar elos com vários personagens, alguns compatíveis com seus ideais e outros só interesseiros, porém, necessários
Um breve exemplo: poupou a vida de um chefe? Ele pode te dar a chave para um armazém cheio de itens valiosos. Matou o cidadão? Esqueça essa bonança. Nem todas as escolhas geram recompensas imediatas, claro, mas é interessante ver o esforço da Team Ninja nesse aspecto e até sentir o cheiro do tom experimental.
Rise of the Ronin é ambientado na segunda metade dos anos 1800, na era Bakumatsu, ao final do período Edo, um momento crucial para o futuro do Japão – e um verdadeiro confronto entre forças ocidentais e orientais.
No papel de um Ronin, isto é, um “samurai sem mestre”, você deve forjar seu próprio caminho e criar elos com diversos personagens, alguns compatíveis com seus ideais e outros necessários meramente por interesses políticos.
Mundo aberto…comum
A decisão de ter um mundo aberto representa um novo desafio ao time de Nioh, Ninja Gaiden e Wo Long. O resultado pode muito bem ser algo próximo a um “Nioh de mundo aberto”, mas com algumas observações importantes.
Primeiramente, a reação dos inimigos e toda a movimentação são previsíveis e, de certa forma, simples demais a quem chegou até 2024 jogando tudo que saiu de relevante nos últimos 15 anos. A verdade é que nos debruçamos por dezenas de mundos abertos na década passada, o que, invariavelmente, mexeu com nossa barra de exigência.
Ao navegar pelo mundo aberto de Rise of the Ronin, tive sentimentos misturados. As missões em si oferecem praticamente a mesma identidade do que vimos em Nioh, o que é positivo, isto é, combate satisfatório e intensas batalhas contra chefes. No que tange à exploração, a verticalidade promovida pelo gancho até chama atenção no começo, mas depois se torna uma ferramenta mais coadjuvante.
As missões secundárias, por sua vez, tentam mudar os ares com ícones que tradicionalmente começam a pipocar à medida que você explora o mapa: atividades de fotografia, asa-delta (que é bem legal de usar), tiro ao alvo, assassinatos e outros favores trazem um mundo aberto “comum” à mesa, o que jamais, e vale frisar, jamais é algo ruim – só talvez não dê um “friozinho na barriga” por trazer um sabor conhecido.
Embora exista uma certa variedade de atividades opcionais, as missões principais, na maior parte das vezes, se resumem a invadir uma base, matar os inimigos e enfrentar o chefe. Invadir uma base, matar os inimigos e enfrentar o chefe. Não há aqueles atalhos brilhantes reconectando o jogador a trechos visitados dentro dessas fases, até porque elas são pequenas.
Também faltou um cuidado maior com a variedade de NPCs nas cidades. Tudo bem que em mundo aberto é absolutamente normal os bonecos repetirem, mas aqui você vê modelos idênticos próximos e com frequência, afetando um pouco a qualidade de vida do mundo.
Em termos de performance, Rise of the Ronin se mostrou satisfatório no PS5, ficando perto dos 60 fps na maior parte do tempo. Ao vivo – e não nos trailers –, os gráficos são melhores do que aparentam, embora não tragam nenhum ponto fora da curva.
O componente cooperativo é maior do que você imagina: as missões principais podem ser desbravadas em até 3 amigos juntos, oferecendo mais um facilitador para a jornada.
Veredito
Enquanto jogo de ação dos mesmos criadores de Nioh, Ninja Gaiden e Wo Long, Rise of the Ronin oferece o consagrado sistema de combate aos que já estão acostumados e se mostra altamente convidativo a marinheiros de primeira viagem. Acessibilidade é um ponto de notável trabalho nessa aventura.
Generoso em conteúdo, o mundo aberto faz a campanha durar suas 30 a 40 horas para quem cumprir as missões principais nas dificuldades menores, enquanto os sedentos pelos 100% vão levar facilmente 70 a 80 horas. Se você optar pelo caminho difícil para tatear o soulslike, trate de adicionar horas a essas estimativas de tempo.
Alguns cuidados adicionais poderiam deixar o mundo aberto de Rise of the Ronin com mais qualidade de vida. Ele segue a conhecida cartilha desse formato, o qual, em 2024, já mexeu com nossa percepção.
Por fim, o robusto contexto histórico é um trabalho tão bem pesquisado que, por si só, faz valer o tempo de conhecer a saga dos Ronin – e tudo que rodeia esse mundo em transformação.
Analisado no PS5. Uma cópia de Rise of the Ronin foi gentilmente cedida pelo PlayStation Brasil para a realização desta análise.
Rise of the Ronin
Publisher: Sony
Desenvolvedora: Team Ninja
Plataformas: PS5
Lançamento: 22/03/2024
Tempo de review: 50 horas
Rise of the Ronin não é um soulslike: é um acessível (e comum) RPG de ação em mundo aberto, convidativo a qualquer público
Prós
- Acessível a todos os públicos
- Contexto histórico rico e bem pesquisado
- Combate extremamente satisfatório
- Bastante conteúdo a ser desbravado
Contras
- Faltou cuidado maior com a qualidade de vida do mundo
- Maioria das missões cai no ciclo “limpar base inimiga"
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