Review: Tormented Souls 2 é um dos melhores Resident Evil clássicos

Em uma campanha de mais de 15 horas recheada de combates, puzzles muito bem-elaborados e uma estética de tirar o fôlego (especialmente para fãs latino-americanos), Tormented Souls 2 é uma das muitas gratas surpresas de 2025.

Se você é fã dos icônicos Resident Evil dos anos 90, há algo muito legal para aproveitar aqui. Confira nosso review completo!

História intrigante e que não depende do antecessor

Na trama de Tormented Souls 2, acompanhamos as irmãs Caroline e Anna Walker, que estão viajando para um convento para buscar ajuda para Anna, que vem tendo episódios macabros de desenhar eventos que se concretizam no futuro. E, como você deve imaginar, o local não é exatamente um espaço seguro para elas.

Embora a premissa parta de eventos do primeiro título, Tormented Souls 2 não depende dos acontecimentos anteriores para entregar uma boa narrativa, algo muito positivo para marinheiros de primeira viagem.

Imagem: Vini Munhoz/Flow Games

Não esperava muito do enredo além dos clássicos clichês de jogos de terror, mas há algumas bolas curvas e reviravoltas que realmente não esperava, criando um excelente senso de mistério e expectativas para o desfecho. Ela poderia ser um pouco mais incrementada e com doses mais frequentes de conteúdo, mas ainda dá conta do trabalho.

Tormented Souls 2 pode não ter muitos personagens de suporte e os melhores diálogos já escritos, mas tem um alicerce sólido para fisgar a atenção e ainda oferece um fator replay interessante, já que há múltiplos finais que dependem de ações específicas para acontecer.

Imagem: Dual Effect

Gameplay com alto valor, mesmo com probleminhas

Mas, se você realmente se interessou por Tormented Souls 2, foi provavelmente por sua grande inspiração no estilo dos Resident Evil clássicos: e nisso, ele não deixa a desejar em nada. Esse talvez seja o maior sucessor espiritual desse gênero que caiu em desuso, mas ainda tem muita lenha para queimar.

Embora o game traga as câmeras fixas, os controles são alternáveis entre tanque e “soltos”, tudo depende se você escolhe mover pelo analógico ou direcionais do D-Pad do controle. No geral, a experiência é boa, mas talvez seja onde mais estranhei: a movimentação é um pouco leve demais e troca de ângulos de câmera pode mudar drasticamente a direção de movimento.

Imagem: Vini Munhoz/Flow Games

Há coisas a serem refinadas em Tormented Souls 2, mas a Dual Effect, desenvolvedora chilena, tem feito correções constantes no jogo e essas arestas a serem aparadas podem ser corrigidas com o tempo.

Contudo, no que o jogo se propõe a fazer, ele faz com maestria. Desde Resident Evil Remake de GameCube, poucos títulos alcançaram o que ele faz: trazer o clima de terror e tensão de um estilo há muito deixado de lado.

O combate não é o melhor que já vi, mas é muito competente com uma variedade legal de inimigos, lutas corpo a corpo com diferentes armas brancas, armas de fogo improvisadas bem legais de usar e um forte componente de gerenciamento de recursos: se você não gerenciar sua munição, você vai ficar sem poder de fogo para lutar contra inimigos e chefes.

As armas de Tormented Souls 2 podem ser aprimoradas para versões melhores, os cenários são bem variados com localizações tenebrosas e urbanas e até os chefões trazem mecânicas diferentes para serem derrotados. Além disso, há um sistema interessante operando sempre em paralelo: o escuro pode te matar.

Imagem: Vini Munhoz/Flow Games

Você deve sempre ter algum foco de luz, seja do cenário ou com você (como o isqueiro) para se proteger do escuro. E o que isso implica? Que a sua mão estará ocupada com a ferramenta e não há como equipar uma arma ao mesmo tempo (ao menos em boa parte da campanha).

Esses elementos trazem um tempero único ao gameplay de Tormented Souls 2 e o tornam um verdadeiro survival horror. Há momentos de sustos, mas há muita tensão e escolhas a fazer. E, como todo jogo do gênero, bons puzzles não podem faltar.

Imagem: Dual Effect

Puzzles de altíssima qualidade

Se há uma coisa que Tormented Souls 2 não faz é subestimar o intelecto dos jogadores. Desde o primeiro momento que encostamos no controle para controlar Caroline, há puzzles para resolver. E o mais legal é que você precisa pensar fora da caixa, examinar itens, exercitar a lógica e fazer combinações inusitadas.

Em um deles, por exemplo, você deve utilizar uma fita cassete e um gravador portátil para passar por uma trava de reconhecimento de voz. Contudo, não só você precisa achar as pilhas do gravador, a fita e tocar o áudio, como também colocar para tocar na hora certa para a voz no gravador falar a senha no momento que a porta requeira a entrada.

Há muitos enigmas realmente muito bem-feitos em Tormented Souls 2. Alguns, inclusive, são extremamente complicados e requerem realmente uma boa dose de atenção e exercício da lógica. Pode parecer exagero, mas o game realmente tem puzzles muito bem-construídos que me lembraram o quanto sinto falta desse aspecto em survival horrors.

Inclusive, se você não for um entusiasta de responder enigmas, é bem capaz de travar em alguns deles – mas, para mim, isso ainda é positivo, embora ter dicas para evitar softlocks não fosse ruim.

Imagem: Dual Effect

Atmosfera e gráficos espetaculares

Além do gameplay extremamente prazeroso, Tormented Souls 2 acerta em outro aspecto muito importante de um jogo no estilo Resident Evil: a atmosfera. E, talvez para muitos jogadores que não são da América do Sul, isso talvez não seja tão efetivo, mas para nós as escolhas da Dual Effect são primorosas.

A América Latina compartilha muitos elementos em comum e, mesmo que o jogo se passe no Chile, há diversas semelhanças. Uma delas é a exploração da imagética católica, que, honestamente, eu sempre tive um certo desconforto: locais mais escuros de igrejas, móveis de madeira escuros e antigos, a estética de santos e mais.

Imagem: Vini Munhoz/Flow Games

Tormented Souls 2 realmente se aproveita muito bem disso e distorce os elementos católicos a seu favor para criar uma atmosfera de terror, algo similar a filmes como “Stigmata” ou “Fim dos Dias”. A ambientação é espetacular e, mesmo com esse trunfo nas mãos, ainda há variedade.

A cidade do interior do Chile em que se Tormented Souls 2 se passa é assustadoramente similar a cidades do interior do Brasil e há uma certa familiaridade tenebrosa com nosso repertório. Há diversos cenários muito bem-feitos e amei praticamente todos, inclusive o “mundo invertido” inspirado em Silent Hill.

E, para coroar tudo isso, os gráficos de Tormented Souls 2 são realmente incríveis. A estética fotorrealista casa perfeitamente para criar esse clima extremamente atmosférico e tudo me impressionou bastante com a qualidade dos materiais, texturas e objetos 3D.

Imagem: Vini Munhoz/Flow Games

Entretanto, o game peca em alguns pontos técnicos, como qualidade das animações faciais, animações e alguns outros elementos mais dinâmicos. Mas, no geral, Tormented Souls 2 parece uma evolução do que vimos no remake de Resident Evil no GameCube na era moderna.

E, para não deixar faltar, a sonoplastia também faz um bom trabalho aqui para nos amarrar ao ambiente tenebroso. As músicas são um pouco de erro e acerto, com algumas realmente boas e outras um tanto esquecíveis.

Imagem: Dual Effect

Tormented Souls 2 vale a pena?

Tormented Souls 2 foi uma das gratas surpresas de 2025. Eu já havia jogado o primeiro e, embora tenha gostado, ainda via muito espaço para melhorias por lá. Contudo, a sequência realmente evolui os conceitos originais e se torna uma opção robusta para entusiasta desse gênero (agora) retrô.

O jogo tem alguns tropeços técnicos e a história poderia ser um pouco mais encorpada, mas se você busca algo extremamente atmosférico nos moldes dos antigos Resident Evil, esse aqui é um prato cheio.

Tormented Souls 2 foi gentilmente cedido pela Dual Effect para a realização desta análise.